segunda-feira, 29 de março de 2010

A MORTE À LUZ DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

À luz da ressurreição de Cristo o acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer e, deste modo, atingirmos a felicidade na comunhão do Reino de Deus.

Na verdade, nós nascemos para renascer, como diz o evangelho de São João (Jo 3,3-6).

A consciência da própria morte estimula o ser humano a aprofundar o sentido da vida. Os animais não sabem que um dia hão-de morrer e por isso não sentem necessidade de criar sentidos para viver.

Na verdade, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual. É por esta razão que, normalmente, o mais profundo do sentido da vida emerge na fase terminal.

Nesta fase torna-se claro para a pessoa que o amor é a grande razão que vale para viver e morrer.
Segundo os ensinamentos de Jesus, o amor atinge a sua profundidade máxima quando a pessoa se dispõe a dar a vida pelas pessoas que ama.

Jesus disse aos seus discípulos que amar até à morte é atingir a densidade máxima da vida.

Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor, mesmo que essa opção faça com que a morte chegue mais cedo, como no caso de Jesus.

Com efeito, quando uma pessoa dá a vida para salvar outra, ninguém interpreta esse facto como um suicídio.

Pelo contrário, as pessoas entendem que essa pessoa levou o amor até à sua profundidade máxima.

Na verdade, as pessoas que gastam a vida pelas causas do amor vão morrendo todos os dias ao homem velho que há em nós.

O homem velho tenta poupar a vida a qualquer preço, mesmo que seja a rotura com o amor.
Jesus disse que as pessoas que passam a existência a poupar a vida perdem-na.

A ideia da morte surge ao homem velho como uma tragédia sem saída.

Morrer para dar a vida é a maneira mais perfeita de viver, disse Jesus.

Isto quer dizer que o Homem Novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo. Por outras palavras, a Vida Nova não nasce sem que a velha se vá gastando pelas causas do amor e da comunhão fraterna.

Há seres humanos que vão nascendo todos os dias para a plenitude da vida, pois sabem morrer em cada dia às forças que, em nós, bloqueiam o amor.

Muitas pessoas, ao tomarem consciência da proximidade da sua morte, sentem um apelo especial a fazer o bem.

Isto significa que estão a viver de modo mais profundo o sentido da vida a convidá-las a dar frutos de vida eterna.

Olhada com este sentido, a morte apresenta-se como o último parto para a pessoa renascer de modo definitivo para a Vida Eterna.

À luz da fé cristã a certeza da nossa morte é o convite a criar sentidos válidos para que a vida não seja um fracasso.

A consciência universal da Humanidade já intuiu algo de essencial para o sentido da vida: não estamos a caminhar para o vazio do nada.

De facto, por ter uma interioridade espiritual, o ser humano não cai sob a alçada da morte, nem caminha para o vazio do nada.
A fé diz-nos que é pelo acontecimento da morte que a pessoa entra de modo pleno e definitivo na comunhão universal.

O acontecimento da ressurreição de Jesus Cristo garante-nos que a pessoa humana entra na plenitude da Vida no próprio acto de morrer.

Isto quer dizer que a razão fundamental da nossa existência não é somente prolongar o mais possível a vida mortal, mas construir a vida eterna.

Podemos dizer que no interior da nossa vida mortal a vida imortal emerge como o pintainho dentro do ovo.

Felizes são as pessoas que sabem ocupar a vida presente para construir a vida futura. Para estas pessoas, a morte surge-lhes como a condição indispensável para atingirem a sua glorificação com Cristo Ressuscitado.

Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus se fez nosso irmão, a fim de nós sermos membros da família divina.

Na realidade, a morte é o parto derradeiro através do qual nascemos de modo definitivo para a Família da Santíssima Trindade.

Em geral os seres humanos têm consciência de que a morte destrói o seu ser exterior.

Mas a sabedoria universal da Humanidade diz-nos que a morte não mata a totalidade do ser humano, pois este é imortal no seu ser espiritual.

Iluminada pela Palavra de Deus, a fé diz-nos que a morte é a porta para entrarmos de modo pleno e definitivo na Comunhão Universal da Família de Deus (Rm 8, 14-17).
Jesus ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.
Ele é o Novo Adão que restaura o Homem, conduzindo-o à plenitude da vida que é a comunhão com Deus, na Festa do Reino de Deus (Rm 5, 17-19).

Por outras palavras, o fruto da Vida Eterna do qual fomos privados por Adão ficou de novo ao nosso alcance.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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