De maneiro solene e muito bonita, o evangelho de São João começa por proclamar Cristo como Filho eterno de Deus.
As afirmações mais importantes do evangelho de São João dizem respeito à união orgânica que existe entre o Pai e o Filho:
“No princípio era o Verbo. O Verbo, no princípio, estava com Deus e era Deus (Jo 1, 1-2). E ainda: “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10, 30).
Esta unidade do Pai e do Filho não significa fusão. Na verdade o Pai e o Filho são duas pessoas distintas e a comunhão que existe entre elas não as anula.
Por outras palavras, a união do pai e do Filho não significam uma fusão que anula a identidade única e original de cada pessoa.
A união do Pai e do Filho é uma reciprocidade amorosa, onde o Espírito Santo aparece como princípio animador:
“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).
O modo de agir de Jesus, dizem os evangelhos, está em perfeita conformidade com a vontade do Pai.
Por isso olhar para Jesus é descobrir o rosto de Deus Pai: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheces Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes: “Mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 9).
O Filho eterno de Deus é uma réplica perfeita do Pai no que se refere aos critérios e jeito de amar a Humanidade.
Eis a razão pela qual o Filho pode dizer com verdade: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).
Os evangelhos dizem que Jesus realizava a sua missão em total sintonia com o Pai:
“O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho o poder de julgar, a fim de os homens honrarem o Filho como honram o Pai.
Aquele que não honra o Filho também não honra o Pai, pois o Filho foi enviado pelo Pai” (5, 22- 23).
A fé no Filho e a fé no Pai são os pilares da única fé em Deus. Eis as palavras de Jesus:
“Aquele que acredita em mim, não só acredita em mim, mas também naquele que me enviou” (Jo 12, 44).
O Filho actua em perfeita sintonia com o Pai, pois o Pai entregou nas suas mãos a realização do seu plano de salvação:
“O pai ama o filho e colocou todas as coisas nas suas mãos” (Jo 3, 35).
Por isso o Filho está unido ao Pai de modo permanente:
“E aquele que me enviou está comigo e em mim. Com efeito, o Pai não me deixou sozinho, pois eu faço constantemente as coisas que lhe agradam” (Jo 8, 29).
“E aquele que me enviou está comigo e em mim. Com efeito, o Pai não me deixou sozinho, pois eu faço constantemente as coisas que lhe agradam” (Jo 8, 29).
Pelo mistério da Encarnação, os seres humanos ficaram membros da Família Divina: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho.
O evangelho de São João diz que o Filho de Deus, ao tornar-se irmão dos homens, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12-14)
Jesus declara-se nosso irmão, pois também nós somos filhos do seu Pai:
“Eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). São Paulo diz que o Filho de Deus, ao vir ao mundo, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).
Através do Espírito Santo nós participamos da salvação com Cristo, pois estamos unidos a ele de modo orgânico.
Esta união é semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. São João diz que nós somos os ramos da videira e Cristo é a cepa da qual nos vem a seiva vivificante do Espírito Santo (Jo 15, 1-8).
A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Graças ao dom da Encarnação, diz o evangelho de São João, foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).
Eis o modo como Jesus explicita a nossa união orgânica com o Pai e o Filho:
“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).
O evangelho de São João mantém um perfeito equilíbrio entre a afirmação de Cristo como filho eterno de Deus e a sua condição de homem em tudo igual a nós excepto no pecado:
Como filho eterno de Deus, Cristo e o Pai fazem um (Jo 10, 30).
Por isso, quem vê o seu modo de actuar está a ver o próprio jeito de ser do Pai (Jo 14, 9).
Segundo o evangelho de São João, o Apóstolo São Tomé, depois da aparição de Jesus ressuscitado exclama: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).
Querendo significar a condição divina de Jesus, o evangelho de São João põe na boca de Jesus a mesma expressão que Deus usou no Monte Sinai perante Moisés: “EU SOU”:
“Agora digo-vos estas coisas antes que aconteçam, a fim de que, quando elas acontecerem, acrediteis que EU SOU” (Jo 13, 19).
Mas o evangelho de São João reconhece igualmente que Jesus é um homem e por isso Jesus, pouco antes de partir o Pai diz:
“Eu vou para junto de meu Pai e vosso Pai, do meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Devido à sua condição divina o Filho é igual ao Pai e faz um com ele (Jo 10, 30).
Mas se tivermos presente a sua condição de homem, o Pai é maior do que o Filho:
“Ouvistes o que eu vos disse: “Eu vou mas voltarei para vós. Se me tivésseis amor, devíeis alegrar-vos por eu ir para o Pai, pois o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).
A compreensão da divindade de Cristo não foi o ponto de partida da fé apostólica, mas sim o ponto de chegada.
Compreender o mistério de Jesus Cristo como Filho Eterno de Deus supõe um salto de qualidade a nível da fé.
Este salto de qualidade implicava compreender de outro modo o próprio mistério de Deus, um mistério intocável para a fé judaica.
Com efeito, reconhecer que Cristo é o Filho eterno de Deus implica afirmar que Deus não é apenas o Yahvé do Antigo testamento, mas uma comunidade familiar:
“Não acreditais que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? Acreditai que eu estou no Pai e o Pai está em mim, pois eu faço as obras do Pai” (Jo 14, 10-11).
A fidelidade incondicional de Jesus é fonte de vida eterna para a Humanidade. Por isso ele procura fazer as coisas tal como o Pai lhe mandou:
“Eu não falei por mim mesmo, mas o pai, que me enviou, é que me comunicou o que devo dizer.
E eu sei que a missão que o Pai me entregou traz consigo a vida Eterna.
Eis a razão pela qual eu digo exactamente o que o Pai me disse para dizer” (12, 49-50). Como Filho eterno de Deus, Cristo é, tal como o Pai, a própria fonte da Vida:
“Assim como o Pai tem vida em si mesmo, também o Filho tem a vida em si mesmo” (Jo 5, 26).
Por isso Jesus aparece nos evangelhos a ressuscitar mortos, isto é, a manifestar-se como fonte de Vida Eterna:
“Disse-lhe Jesus: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido viverá.
Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre” (Jo 11, 25-26). Podemos dizer que em Cristo, Jesus de Nazaré e o Filho Eterno de Deus estão unidos mas não se fundem nem confundem.
Por outras palavras, o Filho Eterno de Deus e o Filho de Maria fazem uma união orgânica, mas isto não quer dizer que em Cristo o humano e o divino sejam indistintos.
Não podemos esquecer que o Filho unigénito de Deus é eterno, enquanto Jesus, o Filho de Maria, nasceu como no tempo e faz parte da Humanidade.
Isto quer dizer que entre a grandeza divina de Cristo e a sua grandeza humana existe uma distância suficiente que permite ao homem ser plenamente homem sem interferências do Filho Eterno de Deus.
Do mesmo modo, o Filho Eterno de Deus mantém uma distância suficiente para manter a sua plena grandeza divina sem quaisquer bloqueios provenientes da humanidade de Jesus de Nazaré.
Outro aspecto importante é a centralidade da acção do Espírito Santo na dinâmica da Encarnação.
O Espírito Santo é a ternura maternal de Deus. A sua acção no mistério da Encarnação não é substituir o pai humano de Jesus, mas optimizar o amor maternal de Maria.
Graças à acção especial do Espírito Santo no coração de Maria, esta ficou capacitada para amar o seu filho com o próprio jeito de Deus.
Calmeiro Matias
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