O animal gosta de viver, mas não é capaz de fazer projectos de vida, nem procurar sentidos e modos para se realizar.
Os seres humanos, pelo contrário, não conseguem viver sem sentidos, pois a vida surge para eles como um desafio e uma caminhada que é preciso programar.
Quando não encontra sentidos para viver, o ser humano entra em crise e pode mesmo pensar no suicídio.
Por estar a estruturar-se como ser histórico, a pessoa tem a capacidade de associar o passado com o presente e este com planos e sonhos de futuro.
Isto acontece assim porque a pessoa se sente a caminhar para uma meta que se vai confirmando e robustecendo com as realizações com sucesso humano.
Na verdade, a pessoa faz-se, fazendo, realiza-se, realizando. Isto significa que a vida do ser humano é uma cadeia de vivências e realizações que se vão estruturando numa identidade pessoal única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.
Por não ser uma pessoa em construção, o animal não tem esta consciência existencial, nem se sente chamado a actuar de acordo com os valores.
Na verdade, os valores são apelos que a pessoa sente no sentido de se construir em conformidade com eles, a fim de se edificar como pessoal livre, consciente e responsável.
Por outras palavras, como ser em realização, a pessoa edifica-se de modo gradual e progressivo, fazendo emergir a sua novidade de pessoa única.
E é assim que nos vamos tornando imagens de Deus, pois sempre que em nós emerge o novo, vamo-nos transcendendo e configurando a imagem de Deus.
À medida que emerge e se estrutura, a pessoa, sem deixar de ser a mesma, vai-se edificando de modo novo e diferente.
A pessoa humana é um ser faminto de transcendência, pois traz consigo uma vocação a realizar-se, a fim de atingir a sua plenitude em Deus.
É por esta razão que o ser humano não pode deixar de se pôr a questão do sentido da vida. Assim como não se põe o sentido da vida, o animal também não tem consciência da sua morte.
A consciência da sua morte é um estímulo que convida a pessoa a colocar-se o sentido da vida.
Nesta busca sde sentido para a vida, Deus não é de modo algum uma questão secundária. Pelo contrário, confere-lhe razões mais profundas para decidir e agir em harmonia com o amor.
De facto, a consciência universal da Humanidade evoluiu no sentido de se colocar a questão religiosa.
Isto quer dizer que a Humanidade, no seu todo, intuiu que não estamos a edificar para a morte.
Mas foi Jesus Cristo quem trouxe a grande resposta a estas interrogações básicas do Homem.
Na verdade, olhando a vida à luz da ressurreição de Jesus Cristo, damo-nos conta que a morte não tem a última palavra sobre o projecto do Homem em construção.
Graças ao mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado.
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