sábado, 24 de abril de 2010

A NOSSA META É O HOMEM NOVO EM CRISTO

Ao iniciar a marcha da Criação, Deus já tinha em mente o nível espiritual da vida humana, cuja plenitude se encontra em Deus.

Pelo mistério da Encarnação foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus através de um novo nascimento.

É por esta razão que Jesus disse que temos de nascer de novo pelo Espírito Santo (Jo 3, 6).

Eis o que diz o evangelho de São João: “A todos os que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).

Os seres humanos nascem inacabados, a fim de terem a possibilidade de completar a obra criadora de Deus.

Esta era uma condição essencial para a pessoa humana se estruturar como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de amar.

O ser humano nasce hominizado, isto é, com uma estrutura própria de homem, mas não nasce humanizado, pois a humanização é uma tarefa que a pessoa tem de realizar em contexto de relações e comunhão fraterna.

Depois de o barro estar amassado, diz o Livro do Génesis, Deus beijou-o e introduziu nele o hálito da vida, a fim de este iniciar a aventura da humanização (cf. Gn 2, 7).

Através da Encarnação Deus deu ao Homem um outro beijo, do qual derivou a divinização do Homem.

No início da grande epopeia da humanização, Deus Pai deu-nos o primeiro beijo, capacitando-nos para podermos emergir como pessoas mediante relações de amor.

O segundo beijo é-nos dado pelo Filho de Deus no momento da Encarnação, criando as condições para sermos divinizados e assumidos na Comunhão da Santíssima Trindade.

Por outras palavras, através da Encarnação, os seres humanos foram incorporados de modo orgânico na comunidade familiar de Deus.

Eis o que diz o evangelho de São João: “Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Graças à união orgânica que existe entre nós e Jesus, nós somos incorporados por ele na Família da Deus.

Jesus disse que a união orgânica que existe entre nós e ele é semelhante à união da cepa da videira com os seus ramos. Nós somos os ramos da videira cuja cepa é Jesus Cristo.

E Jesus acrescenta que nós só podemos ser ramos vivos e fecundos se permanecermos unidos à cepa da qual nos vem a seiva (cf. Jo 15, 4-5).

Segundo o evangelho de São João, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo como fonte de Vida Eterna é falar do Espírito Santo (cf. Jo 4, 14; 7, 37-39).

O Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança que Jesus e os discípulos beberão no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).

Ele é o hálito da vida que Deus comunicou ao barro primordial do qual saiu Adão (Gn 2, 7).

Ele é igualmente o beijo da Encarnação através do qual fomos introduzidos na plenitude dos tempos.

Com a ressurreição de Cristo, o tempo da gestação chegou à plenitude, dando início ao parto do qual vão nascer os novos filhos de Deus, como diz a diz a Carta aos Gálatas:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).

O plano salvador de Deus assenta, pois, sobre estes dois beijos de Deus: o beijo dos primórdios e o beijo da plenitude.

A Comunhão Universal para a qual convergem os seres humanos é a festa do Reino de Deus. Eis algumas afirmações de São Paulo:
“Na verdade, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão que vos encha de medo.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de vós filhos adoptivos. É por este Espírito que clamamos “Abba” ó Pai.
O próprio Espírito Santo dá testemunho no nosso íntimo de que realmente somos filhos de Deus.
Ora, se somos filhos também somos herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-16).

Graças à presença dinâmica do Espírito Santo em nós, Deus torna-se realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco, como diz o evangelho de São Mateus:

“Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem chamarão Emanuel, isto é, Deus connosco” (Mt 1, 23).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo Deus vai-nos moldando à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27).

Pelo segundo, vai-nos incorporando na Família Divina (Jo 1, 12-14).

Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo facilita a nossa caminhada no processo da humanização.

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo ressuscitado. Assim como ressuscitou Jesus também nos vai ressuscitando com ele.

O sacramento da Eucaristia exprime esta união orgânica com Cristo que faz de nós uma unidade com o Filho Eterno de Deus e, através dele, um com o Pai:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

São Paulo diz que o Filho de Deus, ao encarnar, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

Depois acrescenta que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Na Primeira Carta aos Coríntios, ele diz que o nosso coração é um templo no qual habita o Espírito Santo:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

E ainda: “Nós é que somos o templo do Deus vivo. Eis o que diz o Espírito de Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

Diz ainda: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que recebestes de Deus e que está em vós? “ (1 Cor 6, 19).

A presença do Espírito Santo em nós é uma força santificadora, diz São Paulo:

“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Eis como o Livro do Apocalipse descreve a comunhão definitiva do Homem com Deus na plenitude do Reino:

“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.
Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos, pois já não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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