Os horizontes da fé cristã são os mesmos horizontes da Palavra de Deus.
Isto significa que a fé é um dom de Deus e não um simples resultado da reflexão humana.
Por outras palavras, os conteúdos da fé cristã brotam da revelação, a qual vai moldando o nosso modo de ser e agir, graças à acção Espírito Santo em nós.
Eis alguns conteúdos da fé que configuram o modo como vemos o sentido da vida e dos acontecimentos:
Em primeiro lugar acreditamos que há um só Deus, o qual é uma comunhão familiar de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Acreditamos que Deus é amor, como diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4, 7; 4, 16).
Acreditamos que a Criação é essencialmente boa, pois é obra de um Deus que é amor.
A nossa fé diz-nos também que, pelo mistério da Encarnação, o divino se enxertou no humano, a fim de nós sermos divinizados.
Acreditamos que o Filho Eterno de Deus se exprimiu em grandeza humana através de Jesus de Nazaré.
Acreditamos que, em Cristo, o humano e o divino fazem uma união orgânica e interactiva.
Graças a esta união, o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o filho de Maria, fazem um, mas sem se confundirem nem fundirem.
Acreditamos que o Espírito Santo é uma pessoa cujo modo de ser e agir consiste em dinamizar as relações de amor entre as Pessoas de Deus Pai e a pessoa do Filho Eterno de Deus.
Por outras palavras, acreditamos que o Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar, exerce um papel fundamental no acontecimento de Cristo.
É isto que o credo quer dizer quando afirma que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo.
Acreditamos que Deus decidiu revelar-se ao Homem, escolhendo, para isso, um povo que seja o medianeiro da revelação para a Humanidade.
Até Jesus Cristo o medianeiro da dinâmica histórica da revelação foi o Povo Hebreu.
Jesus Cristo dá início ao Povo da Nova Aliança constituído, não por uma raça e uma língua, mas por gentes de todas as raças, línguas, povos e nações.
Deste modo, o Novo povo de Deus pode anunciar a Palavra de Deus no interior de todas as raças, línguas, povos e nações, tornando-se assim o sacramento do plano da salvação universal de Deus.
Acreditamos que Deus é amor e, portanto, não condena ninguém, pois não se pode negar a si mesmo.
Acreditamos que a pessoa humana é capaz de romper a comunhão amorosa com Deus, mas não é capaz de fazer que Deus deixe de a amar de modo incondicional.
Por ser amor, Deus não condena ninguém. As pessoas que vão para a morte eterna condenam-se por sua própria decisão.
Devido ao facto de o Homem ainda não estar acabado, nós acreditamos que Deus o está criando à sua imagem e semelhança.
Na verdade, o Homem é um ser em construção, tanto na sua dimensão física, como psíquica, social ou espiritual.
Acreditamos que a pessoa humana não se esgota na sua dimensão biológica.
Acreditamos que a morte não mata a pessoa, mas apenas o seu ser exterior.
Acreditamos que no momento da morte da pessoa, a sua interioridade espiritual é assumida e incorporada na Família de Deus.
Acreditamos que a Vida Eterna acontece através da ressurreição e não apenas através de uma simples subsistência imortal.
Acreditamos que o núcleo do Evangelho é a Boa Notícia da ressurreição e não uma simples crença na imortalidade da alma.
Com efeito, a imortalidade é um conceito que já existia no mundo pagão muito antes de Jesus Cristo.
Acreditamos que a humanização do Homem é uma tarefa ética que, em síntese, implica dizer sim aos apelos do amor e dizer não ao que se opõe ao amor.
Jesus fez do amor o seu único mandamento, pois sabia que o amor é a dinâmica que possibilita a emergência e estruturação da pessoa humana.
Acreditamos que o anúncio do Evangelho é um serviço importante para o bem da Humanidade.
Acreditamos que para o cristão, a disposição de viver como discípulo de Jesus Cristo é a melhor opção para o cristão se realizar e ser feliz.
Acreditamos que Deus não é uma entidade que se limita a pedir-nos práticas religiosas, fundadas em cultos e ritos bem executados.
É sinal de maturidade cristã ter presente que o Espírito Santo habita no nosso íntimo e aí nos vai moldando à imagem e semelhança de Deus.
Quanto mais vivermos esta realidade de modo consciente, mais aptos vamos ficando para testemunhar o amor de Deus para com os seres humanos.
O sentido da vida humana não é uma evidência que se impõe logo à partida, mas uma descoberta gradual e progressiva que vai amadurecendo em nós.
Em primeiro lugar trata-se de uma descoberta que vai amadurecendo no coração da pessoa que tenta encontrar as razões do que lhe acontece.
Para os cristãos, o sentido da vida é visto numa perspectiva mais profunda:
Trata-se de uma revelação, isto é, de uma confidência do Espírito Santo que habita em nós e vai balbuciando em nós a Palavra de Deus.
Por outras palavras, o sentido cristão da vida tem como horizonte a Sabedoria que vem da Palavra de Deus.
Eis o que diz o evangelho de São João: “Quando o Espírito da Verdade vier, ele vai guiar-vos para a Verdade Plena.
Ele não falará só por si, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos-á o que há-de vir” (Jo 16, 13).
Os crentes que se abrem à Palavra de Deus e à luz do Espírito Santo começam a adquirir uma sabedoria cujos horizontes transcendem o alcance da inteligência Humana.
As mediações de que o Espírito Santo se serve para fazer esta confidência no nosso íntimo são a Escritura, a Comunidade Cristã e os acontecimentos da História Humana.
À luz da Palavra de Deus, a grande razão pela qual vale a pena viver é o amor.
Jesus ensinou aos discípulos que o amor é uma razão que vale tanto para viver como para morrer. Eis as suas palavras:
“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.
Ninguém tem mais amor do que aquele que dá ávida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).
Na verdade, só o Espírito Santo pode projectar luz sobre muitos acontecimentos que parecem tirar todo o sentido à vida. Com efeito, a Palavra de Deus optimiza o sentido daquilo que já o tem e confere sentido àquilo que parece não o ter.
Calmeiro Matias
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