A nossa identidade espiritual está estruturada com as nossas decisões e escolhas na linha do amor.
Na verdade nós somos os modeladores da nossa realização em cooperação com o Espírito Santo.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos inspirando e conduzindo no sentido da nossa realização.
A presença do Espírito Santo acontece no nosso íntimo como interacção adequada à realidade e identidade de cada pessoa.
Com o seu jeito maternal de amar, ele optimiza o melhor das nossas possibilidades de humanização, embora sem impor.
Por outras palavras, o bem que fazemos configura a nossa interioridade espiritual, a matéria-prima essencial que Deus ressuscita e assume na Família Divina.
Podemos dizer que a nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos.
É com este jeito que nos afirmamos no Reino de Deus como pessoas únicas, originais e irrepetíveis.
O centro dinâmico a partir do qual emerge a nossa vida espiritual é aquilo a que a Bíblia chama coração, o núcleo mais nobre da nossa interioridade espiritual.
Segundo a visão bíblica, o coração é a sede dos nossos projectos no sentido do bem ou do mal. É o ponto de encontro com Deus e os irmãos.
Os encontros e as relações humanizantes que vamos concretizando são os frutos bons que produzimos e tornam a nossa vida fecunda.
Estes frutos brotam do nosso coração, graças à força do Espírito Santo que nos habita (Gal 5, 22).
A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Com sua luz e Sabedoria, o Espírito Santo ajuda-nos a vencer os critérios do mundo, tornando-nos pessoas que vencem os critérios do mundo.
O Livro da Sabedoria diz que o insensato se fixa apenas nas aparências e não consegue elevar-se até ao autor da Criação:
“A ignorância acerca de Deus e das suas obras instalou-se no coração do insensato.
É por esta razão que ele não é capaz de vislumbrar o autor invisível das belezas visíveis.” (Sb 13, 1).
A Carta aos Efésios diz que a Sabedoria que conduz à verdade de Deus é uma revelação que acontece no nosso coração graças à acção do Espírito Santo:
“Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê o Espírito da Sabedoria e da Revelação, a fim de poderdes conhecer bem o Deus da Glória” (Ef 1, 17).
No evangelho de São João, Jesus diz que nos vai o Espírito Santo que, o qual nos conduz à Verdade Plena:
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á para a Verdade completa” (Jo 16,13).
A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.
Dada a amplitude e a profundidade da Verdade Plena, só Deus a pode possuir. Isto quer dizer que apenas o Espírito Santo nos pode ir conduzindo na compreensão da mesma verdade.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo.
Eu vou enviá-lo com a missão de vos recordar tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).
O mundo está privado da Verdade e da Sabedoria de Deus porque não acolhe o Espírito Santo acrescenta Jesus numa outra passagem:
“O Pai vai enviar-vos o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.
Vós conhecei-lo, pois ele está junto de vós e em vós” (Jo 14, 17).
Deus é a fonte e a origem da Sabedoria. Ele concede-a como dom aos humildes que acolhem a Sua Palavra com simplicidade e pureza de coração:
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25; Lc 10, 21).
Aqueles a quem é concedido o dom da sabedoria, saboreiam os mistérios de Deus, do Homem e da História com os mesmos critérios de Deus.
São Paulo explica aos cristãos de Roma o que significa saborear as coisas com os critérios de Deus quando afirma:
“O Reino de Deus não é uma questão de comida e bebida, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).
O evangelho de São Lucas diz que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52).
Esta sabedoria é um dom que o Senhor ressuscitado nos concede pelo Espírito Santo nos momentos decisivos em que temos que tomar decisões e enfrenta perigos.
Eis as palavras de Jesus: “Naquela hora dar-vos-ei eloquência e sabedoria, às quais nenhum dos vossos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc 21, 15).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que Estêvão, no momento do seu martírio, estava de tal modo cheio do Espírito Santo e de Sabedoria que os seus inimigos não podiam resistir-lhe (Act 6, 10).
São Paulo diz que o Espírito Santo e a sabedoria de Deus só habitam nos corações simples e humildes:
“Ninguém se iluda: se alguém de entre vós julga ser sábio aos olhos do mundo, torne-se louco, a fim de obter a Sabedoria de Deus.
Na verdade, a sabedoria do mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3, 18-19).
A Sabedoria é uma fonte de alegria e felicidade. De facto, as pessoas de coração sábio fazem o bem, conscientes de que o melhor prémio do bem que fazem é a alegria de o terem feito.
Podemos dizer que a Sabedoria é o cinzel que modela os grandes mestres, dos quais, o maior foi Jesus Cristo.
Os homens de coração sábio são realmente mestres, isto é, pessoas que, pelo seu jeito de falar e agir, inspiram outros, ajudando-os a crescer e a realizar-se como pessoas livres, conscientes e responsáveis.
O critério fundamental das pessoas que se conduzem pela Sabedoria é este:
O que não é justo não deve ser feito. Do mesmo modo, o que não é verdadeiro não deve ser dito.
No evangelho de São Mateus Jesus dá glória a Deus Pai por conceder o dom da Sabedoria às pessoas simples:
“Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25).
São Paulo reconhece que a Sabedoria lhe foi dada por revelação de Deus, a fim de ele a comunicar aos outros:
“Foi-me dada a sabedoria de Deus, a fim de a dar a conhecer” (Ef 3, 10).
E na Primeira Carta aos Coríntios ele afirma o seguinte: “Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, a qual nos foi destinada por Deus para nós desde os tempos primordiais ” (1 Cor 2, 7).
O Livro do Génesis diz que a árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, a ciência humana, sem o condimento da Árvore da Vida, isto é, a sabedoria que vem da Palavra de Deus e do Espírito Santo fez muito mal à Humanidade:
“E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim.
Mas não comas o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que o comeres certamente morrerás” (Gn 2, 16-17).
O Homem preferiu o fruto proibido em vez de comer o fruto da Árvore da Vida e por isso entrou na via do malogro e do fracasso:
“O Senhor Deus disse: “Eis que o Homem quanto ao conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós.
Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.
Então o Senhor Deus expulsou o Homem do Jardim do Éden, a fim de cultivar a terra do qual foi tirado” (Gn 3, 22-23).
Só o Espírito Santo pode encher os nossos corações com a Sabedoria que vem do alto e nos capacita para fazermos da nossa terra uma morada de paz e alegria para todos os seres humanos.
Calmeiro Matias
Sem comentários:
Enviar um comentário