sexta-feira, 28 de maio de 2010

DENTRO DE NÓS ESTÁ A FONTE DA SALVAÇÃO



Deus não é uma realidade histórica, mas faz história connosco. Por outras palavras, Deus não manipula os acontecimentos, mas dinamiza-os a partir do nosso coração.

Na sua ternura infinita, Deus, ao sonhar o projecto humano capacitou-nos para tomarmos parte na Comunhão Familiar de Deus.

Eis o que Jesus diz no evangelho de São João: “Pai chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, para que este também possa manifestar a tua glória, Pai Santo (Jo 17, 1-3).

Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à comunicação da fé e ao conhecimento da verdade.

Deste modo se vai fortalecendo a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.

Este mistério foi manifestado no devido tempo pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tit 1, 1-3).

A vida eterna é um dom gratuito que Deus nos proporciona pela acção do Espírito Santo:
“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para connosco, ele salvou-nos.

Isto não se deve às nossas obras de justiça, mas sim à sua misericórdia.

Deu-nos a possibilidade de nascer de novo através da renovação do Espírito Santo que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.

Deste modo, uma vez justificados pela sua graça, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tit 3, 4-7).

A vida eterna é a Festa da Família de Deus. O Livro do Apocalipse diz que a vida eterna é uma comunhão familiar de Deus com a Humanidade:

“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.

E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.

E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.

Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos.

Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.

O que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!”. E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são verdadeiras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim!

Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida.

O que vencer receberá estas coisas como herança. Eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7).

A vida eterna é uma dinâmica relacional e interactiva e não algo que uma pessoa possa possuir de modo isolado.

O evangelho de São João diz que a possibilidade de possuirmos a vida eterna radica na Encarnação, mistério através do qual o divino se enxertou no humano, a fim de o Homem ser divinizado:

“Aos que o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram dos impulsos da carne nem da vontade do Homem, mas sim de Deus.

E o Verbo Encarnou e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).

A Vida Eterna resulta da nossa incorporação na Família de Deus cujo resultado é a nossa divinização.

A Primeira Carta de São João diz que a dinâmica da vida eterna é o amor:

“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.

Todo o que tem ódio ao seu irmão é homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a Vida Eterna” (1 Jo 3, 14-15).

A Vida Eterna é um dom que nos vem de Deus através de Jesus Cristo ressuscitado. Eis o que diz a Primeira Carta de São João:
“Deus deu-nos a vida eterna, pois esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho tem a Vida, quem não tem o Filho não tem a Vida” (1 Jo 5, 11-12).

A Vida Eterna atinge a sua plenitude no Reino de Deus, mas está a emergir na História.
Graças ao acontecimento histórico de Jesus Cristo, a pessoa vai sendo divinizada na medida em que se humaniza.

Ao ressuscitar, Jesus propôs-nos um jeito novo de viver, o qual nos possibilita uma interacção nova com o Espírito Santo, condição para atingirmos o conhecimento de Deus.

São João diz que a vida eterna consiste em conhecer a Deus: “Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

Conhecer, na Bíblia, significa interagir de modo amoroso e fecundo.
O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo implica uma união orgânica que é fonte de uma nova qualidade de vida:

“Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).

Conhecer Deus é, pois, interagir de modo amoroso e fecundo com as pessoas divinas.

Este conhecimento é algo que só pode acontecer pela acção do Espírito Santo, como diz o evangelho de São Lucas:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:

“Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque foi esta a tua vontade e o teu agrado” (Lc 10, 21).

Isto significa que o conhecimento de Deus não é uma questão teórica, mas uma experiência viva feita no Espírito Santo.






A Primeira Carta de São João diz que o conhecimento de Deus é uma questão de amor:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus.


Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. O que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus á amor” (1 Jo 4, 7-8).


Depois acrescenta: “A Deus nunca ninguém o viu, mas se nos amarmos, Deus permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós” (1 Jo 4, 12).


De facto, o caminho para chegar a Deus é o amor como diz a Primeira Carta de São João:
“Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).


Jesus disse a Filipe que o seu jeito de ser e amar são a manifestação do jeito de ser e amar de Deus Pai:


“Há tanto tempo que estou convosco e não me ficastes a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 8-9).


O evangelho de São João diz que o grande guia para conhecermos o Pai é o Espírito Santo.


Não por nos comunicar muitos conceitos, mas por nos conduzir para atitudes de amor idênticas às de Cristo:


“Fui-vos dizendo estas coisas enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, recordando-vos as coisas que vos disse” (Jo 14, 25-26).


Jesus disse aos discípulos que o Espírito Santo tem a tarefa de completar a própria missão, conduzindo-os para a Verdade plena:


“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender por agora. Mas quando vier o Espírito da Verdade ele há-de guiar-vos para a verdade completa” (Jo 16, 12-13).


A Verdade plena é o conhecimento de Deus que culmina numa perfeita interacção amorosa e fecunda.


No evangelho de São Mateus, Jesus insiste que não há conhecimento de Deus que não passe pelo amor aos irmãos:


“Então os justos vão responder a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?


Quando te vimos peregrino e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?


Então o rei responder-lhes-à: “Em verdade em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 37-40).


Podemos dizer que o conhecimento de Deus é uma vivência que passa pelo jeito de agir face ao amor.


Isto significa que a Vida Eterna é algo que já está a emergir no nosso coração, graças ao modo como nos deixamos conduzir pelos apelos do amor.


Jesus disse à Samaritana que o dom da Salvação acontece no interior da pessoa, graças ao dinamismo da Água Viva, isto é, o Espírito Santo que está no nosso interior:


“Se conhecesses o dom que Deus tem para te dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma Água Viva” (Jo 4, 10).


O profeta Jeremias denuncia a infidelidade do povo hebreu, o qual ousou voltar as costas ao Deus que é a fonte da Água Viva.


São Paulo também utiliza a simbologia de uma bebida para falar do Espírito Santo:


“Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres. Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).


Falando com a Samaritana, Jesus diz-lhe que a Água Viva não é como a água do poço de Jacob, símbolo da Antiga aliança.


A água desse poço, não mata a sede de modo definitivo:


“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-à nele em Fonte de Vida Eterna” (Jo 4, 13-14).


O profeta Ezequiel diz que o Messias, quando chegar, vai conduzir as pessoas para a uma Vida Nova, graças à difusão do Espírito Santo:


“Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne.
Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).


Na Carta aos Efésios, São Paulo convida os cristãos a não se embriagarem com vinho, mas a encher-se da alegria do Espírito Santo (Ef 5, 18).


O profeta Isaías, diz que o Espírito Santo é uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida em abundância:


“Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes.


Estes crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas correntes” (Is
44, 3-4).


Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).


O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que o acontecimento do Pentecostes são a realização dos tempos da plenitude do Espírito, tal como os profetas tinham anunciado.


Face ao entusiasmo e grande alegria que dominava os apóstolos, os judeus acusavam-nos de estarem embriagados.


Estes responderam-lhes dizendo que a sua exultação é a realização do oráculo do profeta Joel:


“Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).


O profeta Joel tinha anunciado que a chegada do Messias daria início aos tempos da abundância do Espírito Santo.


Eis as palavras da sua profecia: “Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade.


Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão e os vossos anciãos terão visões. Também derramarei o meu Espírito sobre os vossos servos e servas naqueles dias” (Jl 3, 1-2).


Graças ao facto de Deus estar a fazer história connosco, podemos dizer que a Vida eterna está a emergir no nosso coração.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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