Os evangelhos dizem que Jesus iniciou a sua pregação convidando as pessoas a converterem-se e a aceitar o Reino de Deus que começava a emergir no seu meio.
Eis as palavras de São Marcos: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo:
“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).
O evangelho de São Marcos diz que o Reino de Deus é um segredo que só pode ser conhecido através da revelação que Jesus trazia:
“A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas aos de fora tudo lhes é proposto em parábolas” (Mc 4, 11).
A carta aos Efésios diz que o Espírito Santo revela os mistérios do Reino apenas aos que são escolhidos para a obra da pregação:
“Deus manifestou-nos o mistério da sua vontade e o plano generoso que tinha estabelecido para conduzir os tempos à sua plenitude, submetendo todas as coisas a Cristo, tanto as que há no Céu como na Terra” (Ef 1, 10).
São Paulo diz que o seu conhecimento sobre o mistério do Reino de Deus se deve ao facto de este lhe ter sido revelado pelo Espírito Santo:
“Por revelação me foi dado conhecer o mistério, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens nas gerações passadas, como agora foi revelado aos santos Apóstolos e Profetas no Espírito Santo.
Segundo este mistério, os gentios são admitidos à mesma herança do povo bíblico. Por outras palavras, os pagãos são membros do corpo de Cristo e, portanto, são participantes do plano salvador de Deus, anunciado pelo Evangelho que os Apóstolos proclamam.” (Ef 3, 3-6).
O Reino de Deus é um projecto que está a emergir na História, mas a sua plenitude transcende a história.
É por esta razão que Jesus, no Pai-Nosso, ensina os discípulos a pedirem ao Pai do Céu para que o Reino venha (Mt 6, 10; Lc 11, 2).
Ao enviar os Apóstolos a pregar o evangelho, Jesus diz-lhes que devem proclamar que a vinda do Reino vai acontecer muito em breve (Lc 9, 2).
No evangelho de São Mateus, Jesus aconselha os discípulos a procurarem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o resto lhes será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).
Os evangelhos dizem que os milagres de Jesus eram sinais para as pessoas compreenderem que o Reino de Deus já estava a emergir:
“Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12, 28; Lc 12, 31).
Jesus disse a Nicodemos que só o Homem renascido pelo Espírito Santo pode tomar parte na festa do Reino de Deus:
“Quem não nascer do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 5-6).
A aceitação do Reino de Deus implica persistência e fidelidade à vontade de Deus: “Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).
E ainda: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).
São Paulo é o grande sinal do que significa um homem fiel ao Deus que nos chama para o serviço do Evangelho (Act 28, 31).
Por ser uma realidade de grandeza humano-divina, o Reino de Deus é transcendente, pois assenta na comunhão Universal da Humanidade com Deus.
Como enxerto do divino no Humano, o mistério da Encarnação era realmente uma condição indispensável para acontecer a divinização da Humanidade.
Deste modo, Jesus de Nazaré é plenamente homem em união com a Humanidade e o Filho de Deus é plenamente Deus em união com o Pai e o Espírito Santo.
Utilizando como imagem a união orgânica do enxerto nas plantas, podemos dizer que o Homem é um ramo do limoeiro frágil, enxertado na laranjeira saudável e robusta que é o Filho Eterno de Deus.
Ao receber a seiva portadora da vida plena, o ramo do limoeiro começa a robustecer-se e a dar limões de alta qualidade.
Mas não começou a dar laranjas. Isto quer dizer que na interacção humano-divina da Encarnação, nem a divindade é mutilada nem a Humanidade é anulada.
A seiva que alimenta esta união orgânica é o Espírito Santo, o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).
Por ser o ponto de encontro e interacção do humano com o divino, Jesus Cristo é a fonte a partir da qual emerge a dinâmica do Reino de Deus.
É dele que emerge e se difunde a dinâmica pascal do Espírito Santo que faz de nós membros da Família Divina (Rm 8, 14-16).
Isto significa que o Reino de Deus é o encontro definitivo e indestrutível do Homem com Deus.
Está em génese na história e culmina na assunção e incorporação do Homem na comunhão com Deus.
Podemos dizer que o Reino de Deus constitui o horizonte máximo da Esperança Cristã. A Igreja não é o Reino de Deus, mas é sacramento do Reino de Deus, isto é, uma mediação privilegiada do Espírito Santo o fazer emergir na História.
O Reino de Deus é uma realidade de grandeza humano-divina. É a Vida Eterna a emergir no tempo.
São Paulo realça a importância fundamental da Igreja como sacramento do Reino, dizendo:
“A mim, o menor de todos os santos, foi-me dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo.
Fui incumbido de revelar aos homens a realização do mistério escondido desde todos os séculos em Deus Criador.
Na verdade, foi-me dada a conhecer a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno que ele planeou em Cristo nosso Senhor” (Ef 3, 8-11).
Por ser sacramental, a missão da Igreja é para a História, pois no Reino de Deus já não há sacramentos, mas sim a realidade que estes explicitam na História.
Na sua plenitude, o Reino de Deus coincide com a Comunhão Universal das pessoas humanas com as três pessoas divinas.
Esta Comunhão assenta em vínculos familiares, pois em Cristo e com Cristo somos todos filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho Eterno de Deus (Rm 8,14-16).
Jesus é a pedra angular sem a qual não podia existir o edifício do Reino de Deus. São Paulo tem uma expressão muito feliz para afirmar a profundidade espiritual do Reino de Deus. Eis as suas palavras:
“O Reino de Deus não consiste em comida e bebida mas em justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).
Na Festa do Reino de Deus ninguém pretende dominar ou machucar os outros, atitudes que geram violência e sofrimento.
Por isso já não há pessoas tristes, desiludidas ou magoadas com os demais. E se ainda houver alguma memória do sofrimento desta vida na terra, Deus passas amorosamente pelos seres humanos e, sorrindo, limpas essas.
Depois, com um beijo cheio de ternura, apaga de modo definitivo as recordações tristes, como diz o Livro do Apocalipse:
“E ouvi uma voz potente que vinha do trono e que dizia: “Esta é a morada de Deus Entre os homens.
Deus habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo. Do mesmo modo, Deus estará com os seres humanos e será o seu Deus.
Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram” (Apc 21, 3-4).
Calmeiro Matias
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