sábado, 14 de agosto de 2010
Convite...
sábado, 17 de julho de 2010
O Parto Derradeiro...
«O acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer.
O evangelho de São João diz-nos
que o ser humano nasceu para renascer (Jo 3,3-6).
A consciência da nossa morte ilumina o sentido que a vida tem.
Os animais não sabem que um dia irão morrer.
Por isso não são capazes de criar sentidos para viver.
Com efeito, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual.
Eis a razão pela qual, o sentido máximo da vida acontece na fase terminal.
Nessa altura descobrimos que as causas que valem para morrer
são exactamente as mesmas que valem para viver: o amor.
Segundo os ensinamentos de Jesus, o amor atinge a sua profundidade máxima
quando a pessoa se dispõe a dar a vida pelas pessoas que ama.
Quem ama até à morte nasce para a plenitude da vida.
Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor,
mesmo que essa opção de vida faça com que a morte chegue mais cedo.
Para estas pessoas, a morte final não tem qualquer sentido
de uma tragédia sem saída.
Os que decidem gastar a vida pelo amor
vão morrendo todos os dias ao homem egoísta que há em nós.
Este homem egoísta converte a ideia da morte
num fracasso e numa tragédia.
Morrer para dar vida é a maneira mais perfeita de viver
e o nosso ser interior rebentar os muros da finitude
que o nosso ser exterior lhe quer impor.
Com efeito, o Homem Novo não pode nascer
sem que o velho vá morrendo, pois a Vida Nova não nasce
sem que a velha vá gastando pelas causas da fraternidade e do amor.
Há seres humanos que vão renascendo todos os dias para a plenitude da vida,
pois sabem morrer em cada dia ao às forças negativas do egoísmo.
Há muitas pessoas que, ao tomarem consciência da proximidade da morte,
se sentem particularmente chamadas a fazer o bem.
No fundo, é como se sentissem um apelo mais profundo a ser fecundas,
isto é, a dar frutos de vida eterna.
Podemos dizer que a morte é o parto fundamental
para o nascimento definitivo.
A consciência da nossa morte é o convite a criar sentidos para viver.
Por ser espiritual, a nossa interioridade pessoal
não cai sob a alçada da morte.
Pelo contrário, é pela morte que a pessoa entra
de modo pleno na comunhão universal.
Sabemos que não há ressurreição sem morte.
A razão da nossa vida na história
Por outras palavras, sábias são as pessoas
Como sabemos, apenas o nosso ser interior, por ser pessoal
e espiritual, tem densidade de vida eterna.
Na verdade, a morte é condição para atingirmos
a nossa glorificação com Cristo Ressuscitado.
Graças ao mistério da Encarnação,
a salvação já está ao nosso alcance!
O Filho de Deus fez-se nosso irmão,
a fim de nós sermos membros da Família Divina.
A morte é, pois, o parto derradeiro através do qual nascemos
de modo de modo pleno e definitivo para a Família de Deus.
A morte não mata a pessoa, pois esta é imortal
no seu núcleo espiritual, mas destrói o nosso ser exterior.
Com seu jeito maternal de amar, O Espírito Santo configura-nos interiormente com Cristo
Graças a Cristo Ressuscitado,
Do Novo Adão, Cristo ressuscitado, veio o Homem Novo,
Ele é a cabeça da Nova Humanidade
E é Bom, de verdade, acompanhar nos derradeiros dias da sua história a alguém que testemunha este Mistério da Vida... O pe. Santos Calmeiro Matias vive hoje a sua Morte, a sua Páscoa, no fim de uma luta contra um cancro que já durava há dois anos e que se tornou muito mais forte no último mês. E a certeza de que uma vida construida nos passos do Amor e da Humanização só pode vencer a própria morte... E claro, também o seu pensamento continuará a ser-nos partilhado aqui nos seus blogs.
sábado, 5 de junho de 2010
DA CRIAÇÃO À SALVAÇÃO EM CRISTO
E eis que um grito potente se faz ouvir a partir deste diálogo amoroso: “Haja Luz!”.
Este grito omnipotente brotou do amor criador da Santíssima Trindade. E o eco deste grito continua a atravessar a vastidão do Universo que nós medimos em anos-luz.
Este grito primordial continua a provocar um eco criador ao longo dos, dinamizando a marcha evolutiva da Criação.
É também deste grito que surgem as estrelas, as aves e a grande variedade dos animais, tanto os domésticos como os selvagens.
O evangelho de São João diz que Jesus Cristo é o grito primordial na sua concretização mais pura e plena, pois ele é o Verbo fecundo que faz emergir a Criação. Eis as palavras de São João:
“No princípio era o Verbo, o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. Foi por ele que tudo começou a existir e sem ele nada veio à existência.
A vida de tudo o que veio a existir com vida estava no Verbo. E a vida era a luz dos homens.
A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1,1-5).
O Livro do Génesis diz que o grito primordial era um grito de amor e por isso fez que as trevas se separassem das trevas:
“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra. A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
Deus disse: “Haja luz. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas.
À luz, Deus chamou dia e às trevas chamou noite” (Gn 1, 2-5).
O início do evangelho de São João é, na verdade, um novo relato da criação, o qual veio projectar um feixe poderoso de luz sobre o relato do Livro do Génesis:
“O Verbo era luz verdadeira que ao vir ao mundo ilumina o homem. Foi pelo Verbo que o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu.
Estes não nascerem dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne ou da vontade do homem, mas sim de Deus.
E o Verbo encarnou e habitou entre nós” (Jo 1, 9-14).
O mistério da luz e das trevas, à luz destes relatos, não é, afinal, uma questão de ciências físicas, mas um mistério associado com o coração do Homem capaz de optar pelo bem e pelo mal.
As obras criadas fazem parte de um plano de amor, no qual Deus quis incluir o Homem. Mas o Homem pode opor-se a este plano amoroso de Deus, como diz o Livro do Génesis:
“Depois, Deus disse: “Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança, a fim de dominar sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”.
Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança, à imagem de Deus o criou. Criou-os homem e mulher.
Depois, abençoando-os, Deus disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1, 16-28).
São João diz que o Verbo, depois de se ter dado ao Homem torna-se uma luz que ilumina todos os seres humanos e como Vida poderosa que ressuscita a todos.
Eis as palavras de Jesus numa oração que ele fez ao Pai do Céu:
“Pai, não peço apenas por estes, mas também por todos aqueles que vão acreditar em mim através da sua Palavra.
Deste modo, eles serão um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Pai, faz que eles estejam em nós, a fim de o mundo acreditar que tu me enviaste.
Eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de eles serem um como nós somos um. Eu neles e tu em mim, a fim de poderem atingir a perfeição da unidade.
Deste modo, o mundo poderá conhecer que tu me enviaste e os amaste a eles como me amaste a mim” (Jo 17, 20-23).
Depois, dirigindo-se aos discípulos acrescenta: “Eu vou pedir ao Pai e ele vos dará outro Consolador, o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece.
Ele vai permanecer convosco para sempre, pois vós conhecei-lo, uma vez que ele permanece junto de vós e está em vós” (Jo 14, 16-17).
Podemos dizer que o mistério da luz é o coração humano iluminado pelo Espírito Santo. Isto quer dizer que Deus, apesar de não ser uma realidade histórica, faz história connosco.
Por outras palavras, Deus não manipula os acontecimentos, mas interage com o Homem numa dinâmica de relações amorosas.
Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à comunicação da fé e ao conhecimento da verdade.
Deste modo se vai fortalecendo a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.
Este mistério foi manifestado no devido tempo pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tit 1, 1-3).
“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para connosco, ele salvou-nos.
Isto não se deve às nossas obras de justiça, mas sim à sua misericórdia. Deu-nos a possibilidade de nascer de novo através da renovação do Espírito Santo que ele derramou com abundância sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.
Deste modo, uma vez justificados pela graça de Deus, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tit 3, 4-7).
A vida eterna é a Festa da Família de Deus. O Livro do Apocalipse diz que a vida eterna é uma comunhão familiar de Deus com a Humanidade:
“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.
E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.
Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.
O que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!”. E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são verdadeiras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim!
Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida. O que vencer receberá estas coisas como herança, pois eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7).
A vida eterna é uma dinâmica relacional e interactiva e não algo que uma pessoa possa possuir de modo isolado.
O evangelho de São João diz que a possibilidade de possuirmos a vida eterna radica na Encarnação, mistério através do qual o divino se enxertou no humano, a fim de o Homem ser divinizado:
“Aos que o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram dos impulsos da carne nem da vontade do Homem, mas sim de Deus.
E o Verbo Encarnou e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).
A Vida Eterna resulta da nossa incorporação na Família de Deus cujo resultado é a nossa divinização.
A Primeira Carta de São João diz que a dinâmica da vida eterna é o amor:
“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.
Calmeiro Matias
sexta-feira, 28 de maio de 2010
DENTRO DE NÓS ESTÁ A FONTE DA SALVAÇÃO
Na sua ternura infinita, Deus, ao sonhar o projecto humano capacitou-nos para tomarmos parte na Comunhão Familiar de Deus.
Eis o que Jesus diz no evangelho de São João: “Pai chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, para que este também possa manifestar a tua glória, Pai Santo (Jo 17, 1-3).
Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à comunicação da fé e ao conhecimento da verdade.
Deste modo se vai fortalecendo a esperança na vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente.
Este mistério foi manifestado no devido tempo pela pregação da qual fui incumbido por mandato de Deus, nosso Salvador” (Tit 1, 1-3).
A vida eterna é um dom gratuito que Deus nos proporciona pela acção do Espírito Santo:
“Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para connosco, ele salvou-nos.
Isto não se deve às nossas obras de justiça, mas sim à sua misericórdia.
Deu-nos a possibilidade de nascer de novo através da renovação do Espírito Santo que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador.
Deste modo, uma vez justificados pela sua graça, vamo-nos tornando herdeiros da vida eterna que já vivemos na esperança” (Tit 3, 4-7).
A vida eterna é a Festa da Família de Deus. O Livro do Apocalipse diz que a vida eterna é uma comunhão familiar de Deus com a Humanidade:
“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia.
E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.
Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos.
Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram”.
O que estava sentado no trono disse: “Eu renovo todas as coisas!”. E acrescentou: “Escreve, porque estas palavras são verdadeiras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim!
Ao que tiver sede eu lhe darei a beber gratuitamente da nascente da Água da Vida.
O que vencer receberá estas coisas como herança. Eu serei o seu Deus e ele será o meu filho!” (Apc 21, 1-7).
A vida eterna é uma dinâmica relacional e interactiva e não algo que uma pessoa possa possuir de modo isolado.
O evangelho de São João diz que a possibilidade de possuirmos a vida eterna radica na Encarnação, mistério através do qual o divino se enxertou no humano, a fim de o Homem ser divinizado:
“Aos que o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue. Também não nasceram dos impulsos da carne nem da vontade do Homem, mas sim de Deus.
E o Verbo Encarnou e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, essa glória que ele possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de Graça e Verdade” (Jo 1, 12-14).
A Vida Eterna resulta da nossa incorporação na Família de Deus cujo resultado é a nossa divinização.
A Primeira Carta de São João diz que a dinâmica da vida eterna é o amor:
“Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.
Todo o que tem ódio ao seu irmão é homicida e vós bem sabeis que nenhum homicida tem dentro de si a Vida Eterna” (1 Jo 3, 14-15).
A Vida Eterna é um dom que nos vem de Deus através de Jesus Cristo ressuscitado. Eis o que diz a Primeira Carta de São João:
A Vida Eterna atinge a sua plenitude no Reino de Deus, mas está a emergir na História.
Graças ao acontecimento histórico de Jesus Cristo, a pessoa vai sendo divinizada na medida em que se humaniza.
Ao ressuscitar, Jesus propôs-nos um jeito novo de viver, o qual nos possibilita uma interacção nova com o Espírito Santo, condição para atingirmos o conhecimento de Deus.
São João diz que a vida eterna consiste em conhecer a Deus: “Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).
Conhecer, na Bíblia, significa interagir de modo amoroso e fecundo.
O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo implica uma união orgânica que é fonte de uma nova qualidade de vida:
“Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).
Conhecer Deus é, pois, interagir de modo amoroso e fecundo com as pessoas divinas.
Este conhecimento é algo que só pode acontecer pela acção do Espírito Santo, como diz o evangelho de São Lucas:
“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:
“Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque foi esta a tua vontade e o teu agrado” (Lc 10, 21).
Isto significa que o conhecimento de Deus não é uma questão teórica, mas uma experiência viva feita no Espírito Santo.
A Primeira Carta de São João diz que o conhecimento de Deus é uma questão de amor:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus.
Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. O que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus á amor” (1 Jo 4, 7-8).
Depois acrescenta: “A Deus nunca ninguém o viu, mas se nos amarmos, Deus permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós” (1 Jo 4, 12).
De facto, o caminho para chegar a Deus é o amor como diz a Primeira Carta de São João:
“Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).
Jesus disse a Filipe que o seu jeito de ser e amar são a manifestação do jeito de ser e amar de Deus Pai:
“Há tanto tempo que estou convosco e não me ficastes a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 8-9).
O evangelho de São João diz que o grande guia para conhecermos o Pai é o Espírito Santo.
Não por nos comunicar muitos conceitos, mas por nos conduzir para atitudes de amor idênticas às de Cristo:
“Fui-vos dizendo estas coisas enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, recordando-vos as coisas que vos disse” (Jo 14, 25-26).
Jesus disse aos discípulos que o Espírito Santo tem a tarefa de completar a própria missão, conduzindo-os para a Verdade plena:
“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender por agora. Mas quando vier o Espírito da Verdade ele há-de guiar-vos para a verdade completa” (Jo 16, 12-13).
A Verdade plena é o conhecimento de Deus que culmina numa perfeita interacção amorosa e fecunda.
No evangelho de São Mateus, Jesus insiste que não há conhecimento de Deus que não passe pelo amor aos irmãos:
“Então os justos vão responder a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?
Quando te vimos peregrino e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?
Então o rei responder-lhes-à: “Em verdade em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 37-40).
Podemos dizer que o conhecimento de Deus é uma vivência que passa pelo jeito de agir face ao amor.
Isto significa que a Vida Eterna é algo que já está a emergir no nosso coração, graças ao modo como nos deixamos conduzir pelos apelos do amor.
Jesus disse à Samaritana que o dom da Salvação acontece no interior da pessoa, graças ao dinamismo da Água Viva, isto é, o Espírito Santo que está no nosso interior:
“Se conhecesses o dom que Deus tem para te dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma Água Viva” (Jo 4, 10).
O profeta Jeremias denuncia a infidelidade do povo hebreu, o qual ousou voltar as costas ao Deus que é a fonte da Água Viva.
São Paulo também utiliza a simbologia de uma bebida para falar do Espírito Santo:
“Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres. Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).
Falando com a Samaritana, Jesus diz-lhe que a Água Viva não é como a água do poço de Jacob, símbolo da Antiga aliança.
A água desse poço, não mata a sede de modo definitivo:
“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-à nele em Fonte de Vida Eterna” (Jo 4, 13-14).
O profeta Ezequiel diz que o Messias, quando chegar, vai conduzir as pessoas para a uma Vida Nova, graças à difusão do Espírito Santo:
“Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne.
Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).
Na Carta aos Efésios, São Paulo convida os cristãos a não se embriagarem com vinho, mas a encher-se da alegria do Espírito Santo (Ef 5, 18).
O profeta Isaías, diz que o Espírito Santo é uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida em abundância:
“Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes.
Estes crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas correntes” (Is
44, 3-4).
Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que o acontecimento do Pentecostes são a realização dos tempos da plenitude do Espírito, tal como os profetas tinham anunciado.
Face ao entusiasmo e grande alegria que dominava os apóstolos, os judeus acusavam-nos de estarem embriagados.
Estes responderam-lhes dizendo que a sua exultação é a realização do oráculo do profeta Joel:
“Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).
O profeta Joel tinha anunciado que a chegada do Messias daria início aos tempos da abundância do Espírito Santo.
Eis as palavras da sua profecia: “Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade.
Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão e os vossos anciãos terão visões. Também derramarei o meu Espírito sobre os vossos servos e servas naqueles dias” (Jl 3, 1-2).
Graças ao facto de Deus estar a fazer história connosco, podemos dizer que a Vida eterna está a emergir no nosso coração.
domingo, 23 de maio de 2010
ESPÍRITO SANTO E DIVINIZAÇÃO DO HOMEM
Isto é possível porque a Divindade é uma comunhão amorosa de três pessoas e a Humanidade também.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo interage connosco, incorporando-nos como filhos e filhas de Deus Pai.
A primeira Carta de São João diz que o Espírito Santo é a semente de Deus no nosso íntimo (1 Jo 3, 9).
É isto que o evangelho de São João quer dizer, quando afirma que temos de nascer pelo Espírito Santo, a fim de entrarmos na Família de Deus (Jo 3, 6).
A Carta aos Gálatas diz que o Espírito Santo, ao gerar em nós a vida de Deus faz-nos exultar, clamando Abba, isto é, Pai Querido (Gal 4, 4-6).
E a Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo, diz São Paulo, são introduzidos na Família de Deus: Filhos e herdeiros de Deus Pai e irmãos e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).
São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo optimizou o amor maternal de Maria, a fim de ela amar o Filho de Deus com a própria ternura de Deus (Lc 1, 35).
São Paulo diz que é impossível que uma pessoa animada pelo Espírito Santo rejeite Jesus Cristo, dizendo que ele não é o Filho de Deus.
Depois acrescenta que ninguém é capaz de confessar com convicção a ressurreição de Jesus, a não ser pelo Espírito Santo (Rm 12, 3).
Foi o Espírito Santo que consagrou Jesus para anunciar a Boa Nova aos pobres, dar vista aos cegos, fazer caminhar os coxos (Lc 4, 18-21).
Por vezes, Jesus exultava de alegria sob a acção do Espírito Santo, dando início a diálogos maravilhosos com Deus Pai (Lc 10, 21).
Por ter a plenitude do Espírito Santo, Jesus deu início ao baptismo no Espírito que é a dinâmica pentecostal da vida cristã (Mc 1, 8; Lc 3, 16).
De tal maneira a acção do Espírito Santo é central no projecto salvador de Deus que o pecado contra o Espírito Santo é o único que não tem perdão.
Pecar contra o Espírito Santo significa bloquear a sua acção salvadora no interior da nossa vida, opondo-se à verdade evidente e atribuir a Satanás aquilo que é fruto da acção do Espírito Santo no coração das pessoas (Mt 12, 31-32, Mc 3, 29; Lc 12, 10-12).
O ser humano que chega a uma situação destas anula qualquer possibilidade de encontro e comunhão com Deus e os irmãos.
O pecado contra o Espírito Santo e situação de inferno são uma e a mesma coisa: a oposição sistemática e incondicional às propostas do amor.
Jesus disse que é o Espírito Santo quem nos conduz à Verdade plena e total (Jo 14, 26).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo anunciam as maravilhas de Deus com toda a coragem (Act 4, 31).
Neste mesmo livro, São Lucas diz que os judeus que martirizaram o diácono Estêvão não conseguiam resistir à sabedoria do Espírito Santo que falava nele (Act 6, 10).
Os primeiros cristãos viviam repletos da consolação do Espírito Santo diz o Livro dos Actos dos Apóstolos (Act 9, 31).
Utilizando a simbologia do profeta Joel, a Carta a Tito diz que fomos purificados pelo poder regenerador do Espírito Santo que Cristo derramou abundantemente sobre nós (Tit 3, 5-6).
São Paulo diz que a sua pregação do Evangelho era eficaz, não por ser fruto de qualquer ciência humana, mas por ser uma demonstração da sabedoria Espírito Santo (1 Cor 2, 4).
A Carta aos Efésios diz que o Espírito Santo é a garantia da nossa salvação: “Não contristeis o Espírito Santo com o qual fostes selados para o dia da Salvação (Ef 4, 30).
É pelo Espírito Santo que Deus Pai que nos acolhe como filhos e Deus Filho que nos recebe como irmãos.
Ele é o hálito da vida que Deus Pai introduziu no barro primordial a partir do qual criou Adão (Gn 2, 7).
Com a sua ternura maternal, o Espírito Santo facilita em nós a tarefa da nossa humanização, inspirando gestos e atitudes, decisões e realizações inspirados pelo amor.
Ele é o fruto da Árvore da Vida plantada no centro do Paraíso (cf. Gn 3, 22-23).
É também o sangue de Deus a circular em nós, alimentando e robustecendo a vida divina no nosso íntimo.
Ele é, como diz São Paulo, a força ressuscitadora de Cristo a actuar no nosso coração (Rm 8,11).
A Segunda Carta aos Coríntios, diz que o Espírito Santo é o coração da Nova Aliança, assente, não na letra que mata, mas no Espírito que vivifica (2 Cor 3, 6).
Ele é a semente de Deus a gerar vida divina nosso íntimo, como diz a primeira Carta de São João (1 Jo 3, 9).
Ele é também o dom da plenitude dos tempos que Deus Filho nos concede pelo beijo da Encarnação.
São Paulo diz que o cristão deve desanimar, pois mesmo que o ainda que o nosso ser exterior se vá degradando e envelhecendo, o nosso ser interior vai-se robustecendo cada dia mais graças ao Espírito Santo que habita em nós (2 Cor 4, 16).
O Espírito Santo é quem nos coloca em interacção com a Comunhão dos Santos, a qual habita a morada a morada de Deus.
A morada de Deus não está longe de nós, pois é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.
Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que o Espírito Santo habita no nosso coração como num templo (1 Cor 6, 19).
Ele está presente a todas as interacções amorosas que formam o entretecido da Comunhão Universal do Reino de Deus.
É a força que vai estruturando a Nova Criação, a qual foi reconciliada com Deus através de Cristo (2 Cor 5, 17-19).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que é o Espírito Santo que ilumina os corações dos não cristãos, capacitando-os para acolher a Palavra de Deus quando esta lhes é proclamada (Act 10, 44-45).
Só com a iluminação do Espírito Santo podemos antecipar na esperança a felicidade que nos aguarda no Reino de Deus.
É ele quem nos ensina a discernir as coisas de Deus, capacitando-nos para separarmos, no nosso coração, a luz das trevas.
É ele que confere sabor à vida, convidando as pessoas a realizarem-se como seres livres, conscientes e responsáveis.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
DILATAR O CORAÇÃO LOUVANDO A DEUS
Como as outras criaturas não vos podem louvar nós queremos empresta-lhes a nossa voz, a fim de vos louvar por elas:
Glória a Vós, Deus Santo, que nos chamaste à vida.
Glória a Vós que nos revelais de tantos modos as vossas perfeições infinitas.
Glória a Vós que nos concedeis tantos momentos de alegria.
Glória a Vós que nos capacitais para transformarmos os nossos sofrimentos em mediações de crescimento espiritual, ajudando-nos a compreender os que sofrem.
Glória Vós pelas montanhas que nos convidam a olhar o Céu azul e a multidão incontável das estrelas.
Glória a Vós pelos mares e os lagos que reflectem a luz brilhante do sol e o azul suave do Céu.
Glória a Vós pelos rios que vão regando a terra, tornando-a mais generosa e fecunda.
Glória a Vós pelos animais selvagens cuja ternura pelos filhotes é admirável.
Glória a Vós pelos pais muitos dos quais são capazes de dar o melhor de si pelos filhos.
Glória a Vós pelo canto harmonioso das aves e os rugidos, os uivos e os balidos dos animais.
Glória a Vós pelas mães e pela sua capacidade inesgotável de comunicar ternura.
Glória a Vós que amorosamente nos revelastes o vosso rosto como uma comunhão amorosa do Pai com o Filho e com o Espírito Santo.
Glória a Vós pelo mistério da Encarnação através do qual o divino se enxertou no humano, a fim de nós sermos membros da Família Divina.
Glória a Vós pela Grandiosa Festa da Vida na qual tomam parte as plantas, os animais e os seres humanos.
Glória a Vós que sonhastes para o Homem um plano de amor admirável fazendo coincidir a perfeição humana com a comunhão divina.
Glória a Vós pelo perfume das violetas, dos lírios e das rosas.
Glória a Deus pela multidão dos peixes que habitam os mares, os rios e os lagos.
Glória a Vós pelo sabor delicioso dos frutos e pela doçura do mel que as abelhas produzem de modo totalmente gratuito.
Glória a Deus por tantas pessoas que, ao longo da nossa vida nos sorriram, capacitando-nos para sorrir e amar.
Glória a Vós pela força do Espírito Santo que nos capacita para fazermos o bem aos outros, facilitando a sua realização e felicidade.
Glória a Vós pela luz do sol que todas as manhãs faz emergir a multidão das cores e das formas que nos encantam.
Glória a Deus pelo carinho das pessoas que nos amaram, capacitando-nos para amar.
Glória a Vós que revelastes a vossa ternura através da ternura das pessoas que nos fizeram bem.
Glória a Vós pela força da ressurreição de Cristo que nos concede a vitória sobre a morte.
Glória a Vós pelo poder criador do Espírito Santo que, no nosso íntimo, nos vai recriando e configurando com Cristo ressuscitado.
Glória a Vós pelas crianças cuja transparência nos convida a ser verdadeiros.
Glória a Vós por nos terdes colocado nesta terra cheia de cores, chilreios, grunhidos e declarações de amor.
Glória a Vós pelas noites serenas que nos convidam à paz e ao descanso.
Glória a Vós pela alegria que nasce no coração dos que se deixam conduzir pela sabedoria do Espírito Santo.
Glória a Vós pelos homens e mulheres que lutam pela justiça e os direitos humanos que são os pilares sólidos da paz.
Glória a Vós pelas pessoas que têm o dom de fazer os outros felizes.
Glória a Vós cuja morada é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual se situa na interioridade máxima do Universo.
Glória a Vós que vindes ao nosso encontro sempre a partir de dentro.
Glória a Vós que em cada dia nos fazeis sentir os efeitos benéficos da vossa presença no nosso coração.
Glória a Vós que ao criar-nos à sua imagem e semelhança, vos tornastes a meta para a qual estamos a caminhar.
Glória a Vós que nos criastes inacabados, a fim de nos podermos realizar como pessoas livres, conscientes e responsáveis.
Glória a Vós cujo amor providencial nos protegeu em tantos momentos de perigo.
Glória a Vós pelo modo como a vossa revelação nos faz compreender o sentido da vida, da História e do Universo.
Glória a Vós pela Nova e Eterna Aliança que fizestes connosco em Jesus Cristo.
Glória a Vós pelo Espírito Santo que é a Água Viva e que faz brotar em nós uma fonte de Vida Eterna.
Glória a Vós que nos acolhe como membros da sua Família.
Glória Vós, Trindade Santíssima, pelo vosso projecto de salvação em favor de todos os seres humanos.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
SABEDORIA E SUCESSO HUMANO
Na verdade nós somos os modeladores da nossa realização em cooperação com o Espírito Santo.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos inspirando e conduzindo no sentido da nossa realização.
A presença do Espírito Santo acontece no nosso íntimo como interacção adequada à realidade e identidade de cada pessoa.
Com o seu jeito maternal de amar, ele optimiza o melhor das nossas possibilidades de humanização, embora sem impor.
Por outras palavras, o bem que fazemos configura a nossa interioridade espiritual, a matéria-prima essencial que Deus ressuscita e assume na Família Divina.
Podemos dizer que a nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos.
O centro dinâmico a partir do qual emerge a nossa vida espiritual é aquilo a que a Bíblia chama coração, o núcleo mais nobre da nossa interioridade espiritual.
Segundo a visão bíblica, o coração é a sede dos nossos projectos no sentido do bem ou do mal. É o ponto de encontro com Deus e os irmãos.
Os encontros e as relações humanizantes que vamos concretizando são os frutos bons que produzimos e tornam a nossa vida fecunda.
Estes frutos brotam do nosso coração, graças à força do Espírito Santo que nos habita (Gal 5, 22).
A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Com sua luz e Sabedoria, o Espírito Santo ajuda-nos a vencer os critérios do mundo, tornando-nos pessoas que vencem os critérios do mundo.
O Livro da Sabedoria diz que o insensato se fixa apenas nas aparências e não consegue elevar-se até ao autor da Criação:
“A ignorância acerca de Deus e das suas obras instalou-se no coração do insensato.
É por esta razão que ele não é capaz de vislumbrar o autor invisível das belezas visíveis.” (Sb 13, 1).
A Carta aos Efésios diz que a Sabedoria que conduz à verdade de Deus é uma revelação que acontece no nosso coração graças à acção do Espírito Santo:
“Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê o Espírito da Sabedoria e da Revelação, a fim de poderdes conhecer bem o Deus da Glória” (Ef 1, 17).
No evangelho de São João, Jesus diz que nos vai o Espírito Santo que, o qual nos conduz à Verdade Plena:
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á para a Verdade completa” (Jo 16,13).
A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.
Dada a amplitude e a profundidade da Verdade Plena, só Deus a pode possuir. Isto quer dizer que apenas o Espírito Santo nos pode ir conduzindo na compreensão da mesma verdade.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo.
Eu vou enviá-lo com a missão de vos recordar tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).
O mundo está privado da Verdade e da Sabedoria de Deus porque não acolhe o Espírito Santo acrescenta Jesus numa outra passagem:
“O Pai vai enviar-vos o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.
Vós conhecei-lo, pois ele está junto de vós e em vós” (Jo 14, 17).
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25; Lc 10, 21).
Aqueles a quem é concedido o dom da sabedoria, saboreiam os mistérios de Deus, do Homem e da História com os mesmos critérios de Deus.
São Paulo explica aos cristãos de Roma o que significa saborear as coisas com os critérios de Deus quando afirma:
“O Reino de Deus não é uma questão de comida e bebida, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).
O evangelho de São Lucas diz que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52).
Esta sabedoria é um dom que o Senhor ressuscitado nos concede pelo Espírito Santo nos momentos decisivos em que temos que tomar decisões e enfrenta perigos.
Eis as palavras de Jesus: “Naquela hora dar-vos-ei eloquência e sabedoria, às quais nenhum dos vossos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc 21, 15).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que Estêvão, no momento do seu martírio, estava de tal modo cheio do Espírito Santo e de Sabedoria que os seus inimigos não podiam resistir-lhe (Act 6, 10).
São Paulo diz que o Espírito Santo e a sabedoria de Deus só habitam nos corações simples e humildes:
“Ninguém se iluda: se alguém de entre vós julga ser sábio aos olhos do mundo, torne-se louco, a fim de obter a Sabedoria de Deus.
Na verdade, a sabedoria do mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3, 18-19).
A Sabedoria é uma fonte de alegria e felicidade. De facto, as pessoas de coração sábio fazem o bem, conscientes de que o melhor prémio do bem que fazem é a alegria de o terem feito.
Podemos dizer que a Sabedoria é o cinzel que modela os grandes mestres, dos quais, o maior foi Jesus Cristo.
Os homens de coração sábio são realmente mestres, isto é, pessoas que, pelo seu jeito de falar e agir, inspiram outros, ajudando-os a crescer e a realizar-se como pessoas livres, conscientes e responsáveis.
O critério fundamental das pessoas que se conduzem pela Sabedoria é este:
O que não é justo não deve ser feito. Do mesmo modo, o que não é verdadeiro não deve ser dito.
No evangelho de São Mateus Jesus dá glória a Deus Pai por conceder o dom da Sabedoria às pessoas simples:
“Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25).
São Paulo reconhece que a Sabedoria lhe foi dada por revelação de Deus, a fim de ele a comunicar aos outros:
“Foi-me dada a sabedoria de Deus, a fim de a dar a conhecer” (Ef 3, 10).
E na Primeira Carta aos Coríntios ele afirma o seguinte: “Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, a qual nos foi destinada por Deus para nós desde os tempos primordiais ” (1 Cor 2, 7).
O Livro do Génesis diz que a árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, a ciência humana, sem o condimento da Árvore da Vida, isto é, a sabedoria que vem da Palavra de Deus e do Espírito Santo fez muito mal à Humanidade:
“E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim.
O Homem preferiu o fruto proibido em vez de comer o fruto da Árvore da Vida e por isso entrou na via do malogro e do fracasso:
“O Senhor Deus disse: “Eis que o Homem quanto ao conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós.
Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.
Então o Senhor Deus expulsou o Homem do Jardim do Éden, a fim de cultivar a terra do qual foi tirado” (Gn 3, 22-23).
Só o Espírito Santo pode encher os nossos corações com a Sabedoria que vem do alto e nos capacita para fazermos da nossa terra uma morada de paz e alegria para todos os seres humanos.
sábado, 8 de maio de 2010
DEUS E A MARCHA EVOLUTIVA DA CRIAÇÃO
O céu ainda não era azul, pois não havia plantas para fabricar o ozono, isto é, o oxigénio que torna o Céu azul.
Foi no interior destes lagos mornos que a vida apareceu dando origem a uma multidão incontável de seres vivos de pequeníssimas dimensões.
Apesar de os seres vivos terem surgido de modo tão simples e frágil, Deus meteu no seu interior uma força maravilhosa, chamada a força da evolução.
Uma vez surgidas nos lagos primitivos, as plantas começam a produzir oxigénio, a fim de o Homem ter ar para respirar.
Pouco a pouco a vida começa a encher a terra: surgiram as plantas e depois as árvores e os animais.
Surgem os dinossauros, esses gigantes dos quais os animais mais pequenos tinham tanto medo. Depois surgem os macacos, os chimpanzés e os Gorilas.
Deus achou esta obra-prima tão bonita que se debruçou sobre o barro para lhe dar um beijo. Nesse momento, o Espírito de Deus entrou no interior do barro.
E foi nesse momento que no interior da obra-prima feita de barro começa a formar-se outra obra-prima feita de espírito.
Nesse momento, o barro tornou-se barro com coração, isto é, um ser capaz de amar Deus e os irmãos e fazer bem às pessoas.
Então Deus disse: vamos fazer que eles sejam membros da nossa Família. Deus imprimiu na Criação um sabor a comunhão, pois todo o Universo está dinamizado pela dinâmica das relações.
São mais de cem mil milhões as estrelas da nossa Galáxia que surgem neste céu azul que prolonga o mar.
Mas além da nossa galáxia, o Universo é constituído por mais de cem mil milhões de outras galáxias imensamente maiores.
A nossa fé convida-nos a celebrar a bondade de Deus Criador, a fim de descobrirmos o sentido das realidades do Universo.
São estrelas e são galáxias.
São sistemas solares e são planetas.
São Nebulosas coloridas e são auroras boreais e asteróides.
Celebrar a Criação é proclamar a obra-prima do Amor Criador de Deus.
A o tema central deste projecto é Jesus Cristo, ponto de encontro do humano com o divino.
Nele, o divino diz-se em grandeza humana e nós somos assumidos na Família de Deus.
Ele é a Palavra eficaz de Deus. À medida que nos revela o plano Salvador de Deus, realiza a obra da Salvação.
No centro deste plano criador está a Humanidade, essa multidão de pessoas em construção.
No coração de cada pessoa está a Humanidade a emergir de modo único, original e irrepetível.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai esculpindo o nosso coração, a fim de ele se enquadrar de modo perfeito no plano criador de Deus.
A Nova Criação, diz São Paulo, é a Humanidade restaurada e encaminhada pelo Espírito de Cristo ressuscitado.
A cabeça desta Nova Criação é Jesus Cristo, pois foi por ele que Deus nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os nossos pecados, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19).
Ao iniciar a criação das aves do Céu, os animais domésticos, os répteis e os animais selvagens, Deus já estava pensando em fazer com o Homem uma Aliança de Amor Eterno.
Todas as obras da Criação têm sentido e razão de existir, pois a Criação inteira é um plano harmonioso projectado pelo amor.
Na verdade, como diz a Primeira Carta de São João, Deus é amor. Isto significa que a Criação é uma obra criada por amor e não um brinquedo para Deus se divertir.
Depois de ter criado o Homem com uma ternura infinita Deus, através do Espírito Santo, ofereceu à Humanidade um regaço cheio de ternura.
A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Ao criar-nos, Deus escreveu o nosso nome na palma da sua mão, a fim de nunca nos esquecer.
Ao longo da nossa vida, Deus vai concretizando este seu amor através de muitas mediações.
A obra de Deus está em génese. É um projecto ainda não acabado. O próprio Homem ainda é um ser não acabado.
É isto que o evangelho de São João quer dizer quando afirma que todos nós temos de nascer de Novo para atingirmos a plenitude do Reino de Deus (Jo 3, 3-6).
Deus criou criou-nos inacabados, a fim de podermos tomar parte na nossa própria criação. Esta é uma condição básica para a pessoa humana se realizar de modo consciente, livre e responsável.
Com o aparecimento do Homem, a Criação atinge o limiar da vida espiritual, tornando-se proporcional ao próprio Deus.
domingo, 2 de maio de 2010
SABER ENFRENTAR OS CRITÉRIOS DO MUNDO
Os critérios do mundo, de modo geral, são um bloqueio à dinâmica da humanização, a qual tende para a justiça, a solidariedade e da fraternidade universal.
À medida em isto vai acontecendo no nosso íntimo, os nossos critérios e atitudes são cada vez mais conformes com os de Cristo.
É, pois, através de nós que o Espírito Santo quer convidar o nosso mundo a optar, tal como Jesus, pela não-violência.
A Palavra de Deus põe o perdão no centro das atitudes verdadeiramente cristãs. Mas não nos pede para calarmos as injustiças ou deixarmos de lutar contra a opressão dos irmãos.
Eis algumas das forças negativas presentes no nosso mundo e que nós, à medida em formos movidos pelo Espírito Santo e a Palavra de Deus denunciaremos ao jeito de Cristo:
*Guerras terrivelmente mortíferas, provocadas por interesses meramente económicos.
*A leviandade com que se põe em perigo o equilíbrio ecológico.
* O tráfico de drogas que destroem pouco a pouco o equilíbrio de milhões de seres humanos.
*A distribuição injusta das riquezas, dando origem a que todos os dias morram muitos milhares de pessoas à fome.
*O abuso sexual de crianças provocando nelas distorções que as deixam com enormes dificuldades para se realizarem de modo equilibrado e feliz.
*As várias formas de violência, sobretudo a tortura e o comércio de mulheres.
* Violação dos direitos humanos.
* A distorção e a destruição da verdade levada a cabo pelos poderosos meios de comunicação, pelos senhores da guerra ou pelos poderosos grupos de pressão.
A Palavra de Deus interpela-nos no sentido de defender a dignidade da pessoa humana.
Impedir um ser humano de se realizar como pessoa é mutilar a Humanidade, pois cada pessoa é uma dádiva única, original e irrepetível do património da Humanidade.
Como sabemos, o amor é interveniente e tenta.
Não há amor autêntico que não procure ser fermento transformador nas situações que desumanizam ou impedem a humanização dos seres humanos.
Somos pela não-violência porque o ódio gera violência e nunca será capaz de extirpar ou vencer o ódio.
Segundo Jesus Cristo, só o amor é capaz de vencer o ódio e criar um alicerce forte para edificar a casa da Nova Humanidade.
O plano de Deus e o seu grande sonho é edificar a fraternidade universal, a base para se edificar a Família Universal de Deus como diz São Paulo (Rm 8, 14-16).
Este é o alicerce mais profundo da dignidade e da igualdade de todas as pessoas.
É verdade que as pessoas não são iguais nas capacidades e talentos, mas são todos iguais em dignidade e direitos.
É urgente reinventar caminhos que nos permitam avançar na conquista da justiça e da fraternidade, a fim de ajudarmos a nascer o Mundo Novo querido por Deus.
Precisamente por não serem violentos, os discípulos de Cristo denunciam a violência.
Fazem-no por um imperativo de consciência, apesar de saberem que estão correndo o perigo da perseguição e até da morte violenta.
Mas a Palavra de Deus ensina-nos que a qualidade de uma vida não se mede pelos anos da sua duração, mas sim pela densidade do amor.
Eis as palavras de Jesus a este propósito: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13).
Como cristãos conscientes e empenhados na obra do Evangelho é importante que, de vez em quando nos ponhamos algumas questões deste tipo:
Que estou fazendo em favor dos meus irmãos? Qual o sentido que estou dando à tua vida? Faço da minha vida um serviço à causa da justiça e da fraternidade?
Deus e o Homem Novo são realmente uma questão primeira na minha vida?
Talvez estas questões possam ser uma mediação para o Espírito Santo me mostrar novos caminhos e possibilidades.
Apesar dos enormes progressos técnicos e científicos, a fome no mundo continua a matar milhares de pessoas todos os dias.
Devido à subnutrição de muitas populações e camadas sociais mais pobres, estão a surgir novos surtos de antigas epidemias, além das novas que eliminam milhões de seres humanos.
É chocante ver que enquanto os pobres estão cada vez mais pobres, os ricos exibem luxos e caprichos cada vez mais dispendiosos.
O egoísmo cresce assustadoramente no nosso mundo, gerando sociedades monstruosas onde a indiferença e a solidão das pessoas crescem assustadoramente.
A proposta que Deus faz aos homens vai numa direcção bem diferente: os bens da Terra destinam-se a todos os homens. Por isso o projecto de Deus acerca dos bens da Terra vai no sentido de que estes sejam para todos os homens.
Segundo o plano de Deus, as riquezas da Terra devem ser geridas de modo a produzirem o bem para todos os seres humanos.
Isto quer dizer as pessoas que possuem bens têm uma vocação distinta daquelas que não os possuem.
As pessoas que têm bens são chamadas por Deus no sentido de partilharem com os irmãos, tornando-se deste modo um sinal do amor e da providência de Deus.
À luz da fé, nada há de essencialmente errado no que se refere à existência do dinheiro.
Em si mesmo, o dinheiro é uma ferramenta para facilitar a vida das pessoas.
Mas o problema é que esta ferramenta pode ser fonte de fraternidade ou de fratricídio.
O que as pessoas fazem com o dinheiro mostra realmente o que elas pensam e são em relação a si e aos outros.
Jesus disse que, onde estiver o nosso tesouro, aí estará o nosso coração (Mt 6, 21).
Quando pomos o nosso dinheiro ao serviço da fraternidade e do amor estamos a sintonizar com o coração de Deus, pois como sabemos, Deus é amor (1 Jo 4, 7-8).
O amor é a interioridade máxima do Universo e é o impulso primordial que dinamiza a génese da Criação.
Deus convida as pessoas que têm bens no sentido de sintonizarem com a própria dinâmica criador do Universo.
A pobreza está a aumentar no mundo, mas isto não tem de ser uma fatalidade.
Jesus ensinou-nos a orientarmos a vida no sentido da partilha, o único caminho para caminharmos no sentido da abundância.
O relato do milagre dos pães ensina-nos que a partilha faz que os bens cheguem para todos e ainda sobrem (Mt 14, 13-21; Mc 6, 34-44; Lc 9, 10-17).
O pecado dos que se recusam a partilhar está em bloquear o processo gerador do amor mediante a circulação dos bens.
O projecto de Deus, diz Maria, a Mãe de Jesus, no seu canto do Magnificat é encher de bens os famintos e despedir sem nada os que se recusam a partilhar (Lc 1, 53).
Os evangelhos dizem que é distorcer a vocação fundamental das pessoas que têm bens passar a vida a amontoar tesouros traça e o caruncho podem destruir e os ladrões podem roubar (Mt 6, 19-20; Lc 12, 33-34).
Jesus é muito claro neste ponto: “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro”. As riquezas devem estar ao serviço do projecto de Deus (Lc 16, 13 -14).
O insensato, diz o evangelho, passa a vida a amontoar riquezas. Depois de encher o celeiro faz obras para o aumentar.
Estas pessoas têm a morte dos insensatos. De facto, quem vive como insensato, morre insensatamente.
É o que acontece com a avareza, o que é uma forma de insensatez e incapacidade de discernir e compreender o sentido da vida.
Segundo o evangelho de São Lucas, quando o avarento menos pensava, veio a morte, despojando-o de tudo o que tinha.
E assim, os seus bens ficaram para outros. Tudo o que amontoara de nada lhe serviu (Lc 12, 13-21).
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se o resultado for o malogro total? (Mt 16, 26; Mc 8, 36; Lc 9, 25).
A partilha, pelo contrário, insere-nos na dinâmica da salvação, diz o evangelho de São Mateus:
“Vinde benditos de Deus, pois tive fome e sede, estava nu, preso e doente e vós atendestes-me” (Mt 25, 34-45).
À luz do Evangelho não há verdadeira conversão a Deus se não houver mudança de atitude face às riquezas.
São Lucas, ao falar de Zaqueu, faz da mudança de atitude face aos bens, o elemento central do relato da conversão do avarento cobrador de impostos:
“Senhor, eis que dou metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo” (Lc 19, 8).
Os Actos dos Apóstolos, no relato da comunidade ideal, falam da partilha como a dinâmica que vence a pobreza e a carência:
“A multidão dos fiéis tinha um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era partilhado (...).
Não havia entre eles qualquer indigente, pois os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e colocavam o dinheiro aos pés dos apóstolos, a fim de se distribuir a cada um conforma as suas necessidades (Act 4, 32-35).
O pecado dos que têm bens e se recusam a partilhar radica no facto de que estes oprimem e impedem a humanização dos pobres.
É importante ter consciência de que as pessoas não valem pelo que têm mas pelo que são (Lc 12, 15).
O Evangelho não nos fornece receitas sobre a partilha, pois esta nasce do amor e, como sabemos, o amor assenta na gratuidade do dom e não na letra da lei.
Por outras palavras, a generosidade não é uma questão de fazer cálculos sobre as contas bancárias, mas sim de se deixar interpelar pelos critérios do amor.
Como sabemos, no que se refere ao amor, o Evangelho apresenta critérios, mas não dá receitas.
O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.
Podemos dizer que a partilha assenta num conjunto de atitudes que brotam do coração e nos põe em sintonia com o coração de Deus.
Mas não podemos deixar de ter presente as chamadas de atenção de Jesus que não se cansava de insistir que as riquezas são perigosas, pois podem bloquear a comunhão com Deus e os irmãos (Lc 12, 16-21).
As riquezas facilmente endurecem o coração, levando as pessoas que as têm a cair na indiferença, ignorando o sofrimento dos que estão em penúria.
Por outras palavras, se a pessoa não tem cuidado, o dinheiro obscurece a mente e o coração da pessoa face ao sofrimento e à carência dos pobres.
Na parábola do rico avarento e do pobre Lázaro, São Lucas acentua que a avareza é um caminho que conduz ao malogro e ao fracasso existencial, o qual pode ter consequências definitivas (Lc 16, 19-31).
No que se refere ao dinheiro e às riquezas Jesus convida os cristãos a ir mais longe e a fazer melhor do que fazem os pagãos:
Favorecer os que têm e emprestar apenas àqueles de quem temos a certeza de vir a receber é fácil, pois só traz vantagens e nenhum risco (Lc 6, 27-28).
No que se refere ao dinheiro e às riquezas, Jesus não se fica pelos critérios economicamente certos e socialmente seguros.
As propostas de Jesus vão no sentido de assumir atitudes marcadamente proféticas, as únicas capazes de ter impacto e interpelar os homens no sentido de vencer as forças negativas do egoísmo que impedem a emergência de um Homem mais humanizado.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
BAPTISMO E SALVAÇÃO EM CRISTO
O baptismo é um sacramento, isto é, uma celebração comunitária da fé que explicita o plano salvador a acontecer na história.
Isto quer dizer que o baptismo não é um modo mágico de salvar as pessoas. As celebrações sacramentais são espaços privilegiados para o Espírito Santo actuar no coração dos crentes, fazendo-os compreender o plano salvador de Deus a actuar na História.
O Baptismo insere os crentes na Igreja, essa parcela de Humanidade chamada a ser um sinal da fraternidade universal na qual já não há mais diferenças de raça, de língua, de classe ou de condição sexual. Eis as palavras da Carta aos Gálatas:
“Todos os que fostes baptizados em Cristo ficastes revestidos de Cristo mediante a Fé. Por isso já não há judeu nem grego, escravo ou cidadão livre. Já não há varão ou mulher, pois todos sois um só em Cristo” (Gal 3, 27-28).
Na Carta aos Colossenses, São Paulo compara o baptismo a uma nova circuncisão (Col 2, 12-15).
Mediante o rito da circuncisão os meninos judeus eram incorporados no povo de Deus e, portanto, participantes das bênçãos prometidas a Abraão.
Pelo baptismo, o crente é incorporado no Novo Povo de Deus. São Paulo diz que a nova circuncisão não é uma questão de rito, mas pelo Espírito Santo:
“Judeu é aquele que o é no seu interior. A verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o Espírito e não segundo a letra da Lei” (Rm 2, 29).
Os ritos só por si não valem nada. Se o baptismo ficasse reduzido ao rito da água, diz São Paulo, não tinhas qualquer valor:
Os judeus também tiveram o seu baptismo em Moisés. No entanto, a maior parte deles não agradou a Deus.
E isto foi escrito, diz ele, para que não nos iludamos e pensemos que pelo facto de termos recebido o rito do baptismo já temos a salvação garantida (cf. 1 Cor 10, 1-7).
A teologia tradicional medieval afastou-se da visão do Novo Testamento quando começou a falar da celebração do baptismo como um acto mágico que opera automaticamente.
Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que Cristo não o enviou a baptizar, mas a pregar, pois a fé vem da pregação, não do rito (1 Cor 1, 17).
O Novo Testamento ensina que nós somos incorporados na Família de Deus graças ao Espírito Santo que nos vem de Cristo ressuscitado.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho eterno de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14).
Podemos dizer que é pelo Espírito Santo que experimentamos o amor paternal de Deus Pai e o amor fraternal do Filho de Deus.
Pelo mistério da Encarnação o Filho de Deus escolheu ser nosso irmão, tornando-se o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo (Rm 8, 29).
Mas para isto acontecer, diz Jesus no evangelho de São João, nós temos de nascer de novo através do Espírito Santo (Jo 3, 6).
É também este o poder que Deus nos dá de nos tornarmos filhos de Deus mediante a Encarnação, como diz o evangelho de São João (Jo 1, 12-14).
Referindo-se ao significado da Encarnação, o evangelho de São João diz que pelo mistério da Encarnação nos foi dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).
São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Logo nos primórdios da Humanidade, Deus Pai comunicou-nos o hálito da vida através de um beijo (Gn 2, 7).
Através do beijo da Encarnação, o Filho de Deus introduziu-nos na Família Divina mediante a ternura maternal do Espírito Santo.
Eis as Palavras da Carta aos Gálatas: “Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei e, deste modo, podermos receber a adopção de filhos.
E, porque somos filhos de Deus, ele enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que em nós clama: Abba, Pai” (Gal 4, 4-6).
Isto significa que o Espírito Santo actua em nós como princípio de gerador de vida espiritual e princípio vital que nos diviniza.
No primeiro beijo acontece a intervenção especial de Deus na criação do homem. No segundo, acontece a incorporação e assunção do Homem na Família de Deus.
A vida divina não emerge em nós por obra da letra que mata, mas sim pelo Espírito que gera vida em nós, diz São Paulo (2 Cor 3, 6).
O baptismo mas é o sacramento que proclama e explicita esta realidade maravilhosa de Deus a actuar na nossa História e a salvar do Homem.
São Paulo diz que nós conhecemos o mistério da nossa filiação divina graças à revelação do Espírito Santo que penetra até ao mais íntimo os segredos da realidade, incluindo o mistério de Deus (1 Cor 2, 10-11).
A Carta a Tito diz que “Deus nos salvou, não pelas nossas obras, mas pela regeneração operada em nós pelo Espírito Santo que Deus Pai nos concedeu por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tit 3, 5-6).
Graças ao facto de nós fazermos uma união orgânica com Cristo que o Espírito Santo tem condições para nos incorporar na família de Deus.
Sem a acção do Espírito Santo é impossível estar organicamente unido a Cristo diz São Paulo:
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse não lhe pertence” (Rm 8, 9).
É isto que a Carta aos Efésios quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o penhor e a garantia da nossa salvação (Ef 1, 13-14).
No evangelho de São João, Jesus diz que a nossa união com ele é semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. Jesus é a cepa e nós os ramos.
Os ramos são fecundos na medida que permanecem unidos à videira. E Jesus acrescenta: “Sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15, 4-5).
Os cristãos que vivem o baptismo no Espírito Santo são estes ramos fecundos, capazes de transformar o mundo.
O Baptismo explicita e proclama este mistério da filiação divina a acontecer na História da Humanidade.
A filiação divina é para todos os seres humanos, não apenas para os baptizados. As comunidades cristãs são o sacramento da comunhão universal da Família de Deus.
A Carta aos Filipenses diz que nós já possuímos uma vida nova, pois já somos filhos de Deus (Flp 2, 15-16).
A adopção filial, realizada pelo dom do Espírito Santo, é mais que um simples acto jurídico, mas uma nova geração graças à acção do Espírito Santo em nós (Jo 3, 6).
E a Carta aos Efésios diz que os pagãos não são apenas hóspedes, mas membros da Família Deus (Ef 2, 18-19).