segunda-feira, 29 de março de 2010

A MORTE À LUZ DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

À luz da ressurreição de Cristo o acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer e, deste modo, atingirmos a felicidade na comunhão do Reino de Deus.

Na verdade, nós nascemos para renascer, como diz o evangelho de São João (Jo 3,3-6).

A consciência da própria morte estimula o ser humano a aprofundar o sentido da vida. Os animais não sabem que um dia hão-de morrer e por isso não sentem necessidade de criar sentidos para viver.

Na verdade, os sentidos da vida e da morte caminham a passo igual. É por esta razão que, normalmente, o mais profundo do sentido da vida emerge na fase terminal.

Nesta fase torna-se claro para a pessoa que o amor é a grande razão que vale para viver e morrer.
Segundo os ensinamentos de Jesus, o amor atinge a sua profundidade máxima quando a pessoa se dispõe a dar a vida pelas pessoas que ama.

Jesus disse aos seus discípulos que amar até à morte é atingir a densidade máxima da vida.

Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor, mesmo que essa opção faça com que a morte chegue mais cedo, como no caso de Jesus.

Com efeito, quando uma pessoa dá a vida para salvar outra, ninguém interpreta esse facto como um suicídio.

Pelo contrário, as pessoas entendem que essa pessoa levou o amor até à sua profundidade máxima.

Na verdade, as pessoas que gastam a vida pelas causas do amor vão morrendo todos os dias ao homem velho que há em nós.

O homem velho tenta poupar a vida a qualquer preço, mesmo que seja a rotura com o amor.
Jesus disse que as pessoas que passam a existência a poupar a vida perdem-na.

A ideia da morte surge ao homem velho como uma tragédia sem saída.

Morrer para dar a vida é a maneira mais perfeita de viver, disse Jesus.

Isto quer dizer que o Homem Novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo. Por outras palavras, a Vida Nova não nasce sem que a velha se vá gastando pelas causas do amor e da comunhão fraterna.

Há seres humanos que vão nascendo todos os dias para a plenitude da vida, pois sabem morrer em cada dia às forças que, em nós, bloqueiam o amor.

Muitas pessoas, ao tomarem consciência da proximidade da sua morte, sentem um apelo especial a fazer o bem.

Isto significa que estão a viver de modo mais profundo o sentido da vida a convidá-las a dar frutos de vida eterna.

Olhada com este sentido, a morte apresenta-se como o último parto para a pessoa renascer de modo definitivo para a Vida Eterna.

À luz da fé cristã a certeza da nossa morte é o convite a criar sentidos válidos para que a vida não seja um fracasso.

A consciência universal da Humanidade já intuiu algo de essencial para o sentido da vida: não estamos a caminhar para o vazio do nada.

De facto, por ter uma interioridade espiritual, o ser humano não cai sob a alçada da morte, nem caminha para o vazio do nada.
A fé diz-nos que é pelo acontecimento da morte que a pessoa entra de modo pleno e definitivo na comunhão universal.

O acontecimento da ressurreição de Jesus Cristo garante-nos que a pessoa humana entra na plenitude da Vida no próprio acto de morrer.

Isto quer dizer que a razão fundamental da nossa existência não é somente prolongar o mais possível a vida mortal, mas construir a vida eterna.

Podemos dizer que no interior da nossa vida mortal a vida imortal emerge como o pintainho dentro do ovo.

Felizes são as pessoas que sabem ocupar a vida presente para construir a vida futura. Para estas pessoas, a morte surge-lhes como a condição indispensável para atingirem a sua glorificação com Cristo Ressuscitado.

Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus se fez nosso irmão, a fim de nós sermos membros da família divina.

Na realidade, a morte é o parto derradeiro através do qual nascemos de modo definitivo para a Família da Santíssima Trindade.

Em geral os seres humanos têm consciência de que a morte destrói o seu ser exterior.

Mas a sabedoria universal da Humanidade diz-nos que a morte não mata a totalidade do ser humano, pois este é imortal no seu ser espiritual.

Iluminada pela Palavra de Deus, a fé diz-nos que a morte é a porta para entrarmos de modo pleno e definitivo na Comunhão Universal da Família de Deus (Rm 8, 14-17).
Jesus ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.
Ele é o Novo Adão que restaura o Homem, conduzindo-o à plenitude da vida que é a comunhão com Deus, na Festa do Reino de Deus (Rm 5, 17-19).

Por outras palavras, o fruto da Vida Eterna do qual fomos privados por Adão ficou de novo ao nosso alcance.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


quinta-feira, 25 de março de 2010

DEUS, O HOMEM E O MISTÉRIO DAS RELAÇÕES

O mistério íntimo das pessoas não é evidente, mas revela-se através das relações.

Quando comunicamos significativamente com os outros, estamos a estruturar-nos como pessoas.
Pouco a pouco, e sem darmos por isso, as relações vão criando uma reciprocidade entre nós e os outros com os quais nos relacionamos de modo mais ou menos duradoiro.

O modo como olhamos o outro, vai modelando também no modo como ele nos olha a nós.

De igual modo, também nós começamos a tratar o outro de modo semelhante àquele com que ele nos trata.

De tal modo o mistério das relações é básico que nós só nos conhecemos e possuímos na medida em que interagimos e nos relacionamos de modo significativo com os outros.

Por outras palavras, através das relações que nós passamos a conhecer em profundidade a nossa identidade e a identidade delas.

Mas a importância das relações humanas vai ainda mais longe, pois nós só nos estruturamos através das relações com os outros.

Além disso, é ainda através das relações que a nossa realidade espiritual emerge e se robustece.
As relações humanas são, de facto, a dinâmica que faz emergir e crescer a pessoa na sua identidade fundamental.

Por estarmos talhados para a reciprocidade e a comunhão, só podemos emergir e possuirmo-nos de modo pleno com e através dos outros.

É esta a dinâmica e o mistério do Homem a emergir através da força estruturante das relações.

Como ser criado á imagem e semelhança de Deus, o homem é um mistério de relações, as quais têm o poder de fazer emergir a identidade da pessoa como ser livre, consciente e responsável e capaz de comunhão amorosa.

Através das interacções a pessoa descobre que cada ser humano tem uma identidade distinta da sua, descobrindo o mistério da unicidade pessoal.

Por outras palavras, através das relações, a pessoa descobre o mistério da pessoa como ser único, original e irrepetível.

Podemos dizer que a pessoa é um ser alicerçado na sua unicidade, mas talhado para a reciprocidade da comunhão amorosa.

É também através das relações que a pessoa saboreia a existência de uma unidade orgânica e dinâmica que liga toda a Humanidade.

Esta unidade orgânica constitui a o alicerce sobre o qual emerge e se estrutura a pessoa, bem como o jardim no qual a pessoa encontra a sua plenitude.

Cada ser humano é uma concretização pessoal da Humanidade a acontecer. Na verdade, a Humanidade não cai das nuvens, nem existe em abstracto, mas está a emergir no concreto de cada pessoa.

De facto, a lei da humanização acontece como emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.

Tal com o Homem, Deus é também um mistério de relações. A nossa fé afirma que exista apenas um só Deus, mas este Deus não é um sujeito infinito e isolado.

Por outras palavras, dizer que existe um só Deus não significa que Deus seja um sozinho, pois é uma comunhão orgânica de três pessoas de infinitamente perfeitas.
A pessoa humana, por vezes, resiste e não se deixa envolver no mistério profundo das relações de comunhão.

No fundo tem medo de perder a sua liberdade, ou a sua unicidade pessoal.

Na verdade a realidade é exactamente o contrário, pois nós só nos encontramos de modo pleno como pessoas livres, responsáveis, únicas, e irrepetíveis na comunhão orgânica universal.

O medo de nos anularmos leva-nos muitas vezes a fechar-nos na nossa pequenez e limitação de seres isolados, o qual nos impede de nos possuirmos e encontrarmos a nossa riqueza mais profunda.

Por outras palavras, só depois de ter sido assumida e incorporada na Comunhão Universal a pessoa adquire a sua plena grandeza.

De facto, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão. É este o núcleo da nossa vocação a construirmo-nos como imagens de Deus.

A comunhão nunca anula a pessoa. Pelo contrário, optimiza tudo aquilo que ela é e faz emergir todas as possibilidades de realização que nela existam.

Por outras palavras, Na comunhão, as pessoas são optimizadas e plenamente valorizadas.

Isto quer dizer que o ser da pessoa atinge a sua plenitude ao realizar aquilo para que ela está talhada.

Deus é amor, diz a bíblia (1 Jo 4,7). Como vimos, não há amor sem relações. Quando dizemos que Deus é amor estamos a dizer que Deus é relações de amor.

No princípio, diz o Livro do Génesis, Deus criou o homem e insuflou-lhe nas narinas o sopro da vida, isto é, o Espírito Santo (Gn 2, 7).

É esta a intervenção especial de Deus na criação do Homem, a qual inicia na História da Humanidade a dinâmica das relações de amor.

Na verdade, ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. O sopro de Deus no barro primordial do qual sairia Adão, portanto, dá início ao processo histórico da humanização do Homem através do amor.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


domingo, 21 de março de 2010

A VIDA ETERNA COMO DOM E TAREFA

À luz da fé cristã a História da Humanidade é um projecto em construção que tende para uma meta. Por vezes as pessoas chamam “Fim do Mundo” ao fim da génese histórica da Humanidade.

São Paulo vê no acontecimento de Jesus Cristo a plenitude dos tempos, isto é, o ponto mais alto da História.

A História Humana, para São Paulo, faz parte de um plano bem estruturado por Deus. A fase que precedeu o acontecimento de Jesus Cristo corresponde aos tempos da gestação.

Com Jesus Cristo, os tempos de gestação chegam ao fim e começa a fase do parto do qual nasce a Nova Humanidade constituída pelos filhos de Deus.

Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher, isto é, homem como nós, a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações, o Espírito de seu Filho, o qual clama “Abba, Pai querido”.

Deste modo, já não somos escravos, mas filhos. Se somos filhos somos também herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Com o mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano, a fim de as pessoas humanas serem assumidas na Família de Deus.

Graças ao acontecimento de Jesus Cristo, portanto, a Humanidade passa a fazer para da Família de Deus. E Cristo que até então era o Filho único de Deus, passa a ser o primogénito de muitos irmãos, diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 29).

A génese da criação e a salvação do Homem faz parte de uma História de muitos milhões de anos, mas com Jesus Cristo teve início a Nova Aliança que une de modo orgânico e definitivo a Humanidade com a Divindade.

Na verdade, com Jesus Cristo a Humanidade atingiu um limiar de vida totalmente novo: os seres humanos foram divinizados.

Ao falar da plenitude dos tempos, São Paulo queria dizer que chegou o tempo da salvação para toda a Humanidade.

A plenitude dos tempos significa que a Humanidade atingiu o topo, isto é, a densidade de vida mais elevada da História.

As primeiras comunidades cristãs julgavam que, devido ao facto de Cristo já estar ressuscitado, o mundo iria acabar muito em breve.

Ao ressuscitar, Jesus Cristo subiu ao Céu, mas vai voltar muito em breve pondo fim à génese da História e a iniciando a plenitude da comunhão do Homem com Deus.

Algumas pessoas imaginavam que tudo isto aconteceria muito em breve e por isso já nem era preciso trabalhar.

São Paulo teve de repreender estes cristãos, dizendo-lhes que a vinda gloriosa de Jesus Cristo vai acontecer e pôr fim à História, mas não assim tão depressa.

Muitos dos Apóstolos, ao princípio, pensavam que muitos deles ainda estariam vivos quando Jesus chegasse (Lc 21, 20-30).

No mundo judaico do tempo dos Apóstolos havia muitas profecias falsas chamadas textos os apócrifos.

Estes escritos eram sobretudo de carácter apocalíptico e falavam do dia da ira de Deus que iria a acontecer em breve para castigar os pecadores e terminar o curso da História.

Nesse dia, só o pequeno resto dos justos escaparia ao dia da ira e da vingança de Deus. Influenciados por estes escritos, os Apóstolos também começaram a pregar o dia da ira que estava para chegar.

Era também esta a maneira de pregar de São João Baptista, com dizem os evangelhos (cf. Mt 3, 7-10).

Graças ao aprofundamento da Palavra de Deus, os Apóstolos começaram a compreender de modo progressivo o significado da vinda gloriosa de Jesus Cristo.

Iluminados pela Palavra de Deus e o Espírito Santo, os Apóstolos começaram a compreender que o fim da História Humana e a vinda gloriosa de Cristo não é uma tragédia, mas um acto do amor de Deus que vai enviar Cristo para salvar a Humanidade.

No dia da vinda gloriosa de Jesus ressuscitado, as pessoas que ainda vivam na Terra serão salvas, passando a fazer parte da Família de Deus para sempre.

Quando as últimas pessoas chegarem ao Céu, isto é, à comunhão da Família de Deus, já lá encontrarão muitos milhões de outras pessoas, isto é, todos os que nasceram depois de Adão.

Temos assim dois aspectos importantes: Em primeiro lugar, o final da História Humana não significa o fim do Universo.

Em segundo lugar, a vinda gloriosa de Jesus não significa uma tragédia para a Humanidade, mas o grande dia da Salvação, pois o Reino de Deus é um projecto do amor de Deus em favor da Humanidade.

A vontade de Deus, diz São Paulo, é que todas as pessoas conheçam Deus e o seu plano para nós e sejam incorporadas na Família Divina (1 Tim 2, 4-5).

Se olharmos atentamente para o modo de Jesus actuar, vemos como ele não agia como quem vem condenar e matar os pecadores.

Pelo contrário curava os doentes e perdoava aos pecadores, anunciando às pessoas que são membros da Família de Deus.

São Paulo entendeu muito bem este plano de Deus realizado através de Cristo. Agora, dizia ele, chegou a plenitude dos tempos, isto é, o tempo do parto do Homem Novo.

A partir de agora já temos connosco o Espírito de Cristo ressuscitado que nos leva a dizer “Abba, Pai querido” (Gal 4, 4-7).
Se prestarmos atenção aos evangelhos encontramos gestos maravilhosos de perdão realizados por Jesus em nome de Deus:

Perdoou à mulher adúltera à qual os sacerdotes judeus queriam matar à pedrada (Jo 8, 1-11).

Perdoou ao Zaqueu, homem desprezado por todos os judeus (Lc 19, 1-10).

Perdoou à Samaritana, considerada uma mulher detestada por Deus (Jo 4,7-21).

Além disso, procedendo deste modo, Jesus dizia que estava a fazer a vontade de Deus: “O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade de meu Pai e realizar o seu projecto de salvação” (Jo 4, 34).

A primeira Carta a Timóteo diz que a vontade de Deus é que os homens se salvem e cheguem a conhecer a verdade de Deus e do Homem” (1 Tim 2, 4).

A meta da História da Salvação é a comunhão universal da Família de Deus, um reino grandioso onde o amor é o único mandamento.

A vinda gloriosa de Cristo no final da História significa que Jesus ressuscitado não deixará ninguém fora da Comunhão Universal da Família de Deus.

Só não toma parte na festa deste reino quem se opõe de modo sistemático às propostas e aos apelos do amor.

Vista à luz da Palavra de Deus, a nossa vida está cheia de sentido e razões para louvar a Deus em todo o tempo e lugar.

Eis alguns dos muito motivos que temos para louvar a Deus:

Louvá-lo porque nos chamou à vida!

Louvá-lo porque nos deu a Natureza como um livro cheio de ensinamentos.

Louvá-lo porque marcou a Criação com o selo da Bondade.

Louvá-lo pelas altas montanhas que parecem dedos gigantes a apontar o céu, a fim de contemplarmos a beleza das estrelas.

Louvá-lo pelos mares e os lagos que reflectem a luz do sol e o azul do Céu.

Louvá-lo pelos rios que regam a nossa terra, capacitando-a para ser fecunda e generosa.

Louvá-lo pelos animais que estimulam a ternura dos seres humanos.

Louvá-lo pelo mistério da Encarnação, graças ao qual o filho de Deus abraçou o Homem em Jesus Cristo, fim de nós sermos introduzidos na Família de Deus.

Louvá-lo pela força da vida a circular nas plantas, nos animais e os nos seres humanos.

Louvá-lo pelo perfume das flores e o sabor delicioso dos frutos que alimentam a nossa vida.

Louvá-lo pela fidelidade do Sol que todas as manhãs nos recorda que estamos a caminhar para o dia sem ocaso onde nunca mais haverá noite.

Louvá-lo pela transparência das crianças que nos convidam a ser verdadeiros e sinceros.

Louvá-lo pelos jovens e adultos que procuram construir a paz nos pilares sólidos da justiça e dos direitos humanos.

Louvá-lo pelo dom da sua Palavra que nos faz compreender o sentido profundo da vida e a meta para a qual estamos a caminhar.

Louvar o Pai que nos acolhe no seu regaço como filhos.

Louvar o Filho de Deus que encarnou para se tornar nosso irmão.

Louvar o Espírito Santo que é a ternura maternal de Deus a conduzir-nos para o amor a Deus e aos irmãos.

Louvar a Santíssima Trindade que nos criou com essa capacidade admirável de amar e comungar na Festa do Reino de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



quarta-feira, 17 de março de 2010

CRISTO E A NOVA HUMANIDADE

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Humanidade. Passou o que era velho e eis que tudo se fez novo.

Tudo isto nos vem de Deus que, em Jesus Cristo nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

São Paulo diz que Jesus ressuscitado, ao comunicar-nos a força renovadora do Espírito Santo nos deu a garantia da Vida Eterna, dando início ao nascimento do Homem Novo.

“Foi em Cristo que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido. Na verdade, o Espírito Santo é a garantia da nossa herança e é ele que nos capacita para dela tomarmos posse, no dia da Salvação” (Ef 1, 13-14).

A Carta aos Romanos diz que já não há qualquer perigo de perdição ou condenação para os que estão em Cristo:

“Já não há condenação para os que vivem unidos a Cristo Jesus. Com efeito, a lei do Espírito que dá a vida libertou-nos, através de Cristo, da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 1-2).

A Carta aos Efésios diz que Deus, ao ressuscitar Jesus, fez-nos sentar com ele no Céu (Ef 2, 6).

Na verdade, se nós somos membros de um Corpo do qual Jesus Cristo é a Cabeça, é normal que tomemos parte na sua ressurreição, pois onde está a cabeça devem estar também os membros do Corpo.

Com efeito, nós somos membros do Corpo de Cristo, pois fomos baptizados no mesmo Espírito Santo, a fim de formarmos um só Corpo, como diz a Primeira Carta aos Coríntios (cf. 1 Cor 12, 13).

Ao reconciliar-nos consigo por Cristo ressuscitado, Deus fez de nós uma Nova Criação (2 Cor 5, 17-19).

São Paulo vê nesta nossa condição de salvos em Cristo um chamamento totalmente gratuito.
Eis as palavras da Segunda Carta a Timóteo:
“Deus chamou-nos e salvou-nos através de uma vocação santa. Não em atenção às nossas obras, mas de acordo com o seu plano e dom que nos concedeu antes dos séculos, através de Cristo.

Este dom foi-nos revelado, agora, pela manifestação do nosso Salvador Jesus Cristo, o qual veio destruir a morte e a comunicar-nos a Vida Eterna por meio do Evangelho” (2 Tm 1, 9-10).

Ao desobedecer a Deus, Adão introduziu-nos no caminho do fracasso e da morte (Gn 3, 17-19).
Jesus Cristo veio como Novo Adão, diz São Paulo, reconciliando-nos com Deus e obtendo-nos a vida eterna pela participação na sua ressurreição (1 Cor 42- 45).

Foi por esta razão que o Filho Eterno de Deus veio habitar a nossa Terra. Com efeito, a Encarnação é o acto pelo qual o Filho de Deus se comunicou connosco em grandeza humana através de Jesus de Nazaré.

E foi assim que Jesus Cristo se tornou o Novo Adão que nos deu a Vida Eterna. Pelo primeiro Adão veio a morte, pelo segundo veio a ressurreição, diz a Carta aos Romanos (Rm 5, 17-19).

Depois da sua desobediência, Adão foi expulso do Paraíso. Ao ficar sem acesso ao Paraíso, Adão ficou privado do fruto da Árvore da Vida, o qual proporcionava a Vida Eterna às pessoas que o comessem (Gn 3, 23).

No momento de ressuscitar, o Novo Adão reabre as portas do Paraíso, proporcionando-nos a Vida Eterna.

Foi isto que Jesus disse ao Bom Ladrão, no momento de morrer e ressuscitar, diz-nos o evangelho de São Lucas: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23, 43).

No momento de ressuscitar, Jesus Cristo revelou-se como o Novo Adão que reabre à Humanidade o Paraíso que o Primeiro Adão fechou.

Além disso, revela-se também como a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo.

Por outras palavras, a Árvore da Vida é Cristo ressuscitado, a Água Viva que, segundo o evangelho de São João, faz jorrar uma fonte abundante de Vida Eterna no nosso coração (Jo 4, 14; Jo 7, 37-39).

Assim como em Adão todas as pessoas morrem, assim também em Cristo, o Novo Adão, todas ressuscitam (1 Cor 15, 20-21).

É verdade que a bíblia não analisa factos, mas conta histórias que servem de mediação à Palavra de Deus para se dizer na nossa mente e no nosso coração.

O Livro do Génesis diz que os frutos da Árvore da Vida eram uma fonte de Vida Eterna para as pessoas que os comessem (Gn 3, 23).
O Novo Testamento vê em Cristo o Novo Adão que veio restaurar as distorções do primeiro.

O primeiro Adão foi desobediente, mas Jesus, o Novo Adão, foi inteiramente fiel. Eis as palavras do hino que a Carta aos Filipenses dedicou a Cristo, o Novo Adão:

“Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele que é a imagem perfeita de Deus, não reivindicou ser igual a Deus.

Pelo contrário, humilhou-se a si mesmo assumindo de modo pleno a sua condição de servo de Deus, um homem no meio dos outros, tal como foi reconhecido por todos.

A sua humildade levou-o a ser obediente até à morte e morte de cruz. Foi por isso que Deus o exaltou e lhe deu uma missão e um nome que está acima de todos.

Deste modo, ao nome de Jesus todos os joelhos se dobram, tanto os que estão no Céu, como os que estão na Terra ou debaixo da Terra.

E deste modo, todos os seres humanos podem proclamar que Cristo é o rei universal, para glória de Deus seu Pai!” (Flp 2, 5-11).

Podemos dizer que este hino do Novo Adão sintetiza o melhor do pensamento de São Paulo sobre Cristo.

O Novo Testamento apresenta-nos um Jesus simples, sem pretensões, apaixonado pela causa de Deus e pela salvação da Humanidade. Nasceu pobre e viveu a condição da gente simples.

A sua grande paixão era conduzir a Humanidade à comunhão da Família de Deus, ensinando as pessoas a tratar Deus por “Abba, Pai querido”.

Era um homem corajoso e punha-se sempre do lado dos pobres e marginalizados. Segundo os seus ensinamentos, os seres humanos valem na medida em que vivem e se realizam como pessoas em comunhão com Deus e os irmãos.

Ensinava que nós e ele fazemos uma união orgânica semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos.

A nossa vida será fecunda na medida que estivermos unidos a ele como os ramos da videira estão unidos à cepa (Jo 15, 4-5).

Tomava partido pelos que não eram capazes de se defender, tornando-se a voz dos que sofriam as injustiças e eram privados dos seus direitos.

Deixava sempre mais felizes os que tinham a sorte de o encontrar e comunicar com ele. Na verdade, as pessoas nunca ficavam mais pobres pelo facto de o encontrar.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


domingo, 14 de março de 2010

O PAI-NOSSO E O JEITO DE JESUS AMAR

I-JESUS E O PAI-NOSSO
Certo dia os Apóstolos pediram a Jesus, para que os ensinasse a orar (Lc 11, 1).

Antes de lhes ensinar o Pai-Nosso, Jesus chamou-lhes a atenção para que a sua oração seja um diálogo familiar com Deus e não um conjunto de rezas mágicas à maneira dos pagãos.

Eis as palavras de Jesus: “Nas vossas orações não sejais como os gentios que usam de vãs repetições, pois pensam que por falarem muito serão melhor atendidos.

Não façais como eles, pois o vosso Pai do Céu sabe muito bem o que necessitais ainda antes de lho pedirdes” (Mt 6, 7-8).

Depois o Pai-Nosso, não como uma fórmula mágica para eles repetirem, mas como modelo do que é falar com Deus sobre as coisas que nos dizem respeito a Deus e ao Homem (Mt 6, 9-14).

A partir desse momento, o Pai-Nosso tornou-se o modelo que deve inspirar a oração dos cristãos, isto é, o modo como devemos falar com Deus, isto é como membros da Família Divina.

Os cristãos aprendem o “Pai-Nosso”, a fim de o poderem usar como modelo da sua oração pessoal.

As comunidades cristãs proclamam sempre o Pai-Nosso nos momentos importantes das celebrações da fé tais como Baptismo, Eucaristia, Confirmação, funerais, casamentos e em muitos outros momentos.

É importante não fazer do “Pai-Nosso” uma fórmula que se aprende de cor para ser repetida de maneira mecânica.

Por outras palavras, o “Pai-Nosso” não é uma espécie de tabuada para ser repetida sem pensarmos no que dizemos.

Pelo contrário, é um modelo de oração para ser meditado, a fim de aprendermos a orar à maneira de Jesus.

Na primeira invocação do “Pai-Nosso” Jesus ensinou aos discípulos que o Pai está nos Céus.

O Céu não é um lugar material, mas o ponto de encontro das pessoas humanas com as divinas e todas as outras que possa haver.

O Céu é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Deus vem ao nosso encontro sempre a partir de dentro e nós encontramo-nos com entrando no nosso interior.

Por outras palavras, o ponto de encontro de Deus com o Homem é o nosso coração.

No Pai-Nosso Jesus ensinou os discípulos a exprimir o desejo de santificar o nome de Deus, dizendo: “santificado seja o vosso nome”.

Quando Moisés se aproximou de Deus no Monte Sinai, Deus disse-lhe: “Não te aproximes. Tira os teus sapatos, pois o lugar que estás pisando é sagrado” (Ex 3, 5).

II-SANTIFICAR O NOME DE DEUS
Dizer que Deus é Santo é o mesmo que dizer que Deus é relações de amor. A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7).

Deus mostrou o seu amor para connosco enviando-nos o seu Filho que se tornou nosso irmão e, como diz São Paulo, o primogénito de muitos irmãos.

Eis as suas palavras: “Porque aquele que antecipadamente conheceu, também os predestinou para serem uma imagem perfeita de seu Filho, ao ponto de ele se tornar o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Tornarmo-nos imagens perfeitas do Filho de Deus cumprindo o mandamento que ele nos deu, diz o evangelho é cumprir o seu mandamento, como Jesus nos diz no evangelho de São João:

“É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor.

A vós eu chamo-vos meus amigos, pois dei-vos a conhecer tudo o que aprendi do meu Pai” (Jo 15, 12-16).

Ao ensinar o “Pai Nosso” aos discípulos, Jesus quis ensinar-nos que Deus está tão perto de nós que habita no nosso coração.

Podemos dizer que a mensagem do “Pai Nosso” é tão profunda como o próprio Evangelho de Jesus Cristo. Por isso Jesus ensinou os discípulos a dizerem “Pai-Nosso” e não Pai meu.

Por outras palavras, seremos tanto mais filhos de Deus, quanto mais formos irmãos uns dos outros.

Devemos trabalhar para construir a Família de Deus, a fim termos um lugar na Comunhão da Família de Deus.

Orar segundo os critérios do Pai-Nosso, significa que o nosso diálogo com Deus deve apoiar-se numa confiança idêntica àquela com que os filhos se aproximam do seu pai ou da sua mãe.

Na oração do Pai-Nosso Jesus ensina-nos a pedir ao Pai que o seu Reino venha, isto é, que a plenitude da Vida e da felicidade venha.

O Livro do Apocalipse diz que o Reino de Deus é o encontro definitivo de Deus com os homens:

“Eis a morada de Deus entre os homens. Deus habitará com eles e eles serão o seu povo. Deus está com eles e será para sempre o seu Deus.
Enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram” (Apc 21, 3-4).

Na Festa do Reino de Deus já ninguém sofre com a saudade dos que estão longe. De facto, na Comunhão da Família de Deus já não existe a lonjura, pois as pessoas estão todas presentes umas às outras.

No centro da morada de Deus, acrescenta o Apocalipse, há um rio de Água Viva que brilha como se fosse um grande espelho iluminado pelo sol.

A Água Viva, diz Jesus no evangelho de São João, é o Espírito Santo (Jo 7, 37-39).
As pessoas que têm sede, continua o Apocalipse, entram no rio e bebem. Nesse momento ficam cheias do Espírito Santo e o seu rosto fica a brilhar como o rosto de Cristo Ressuscitado.
Todos os que na terra purificaram o coração, acolhendo a Palavra de Deus, têm direito a beber neste rio e a comer o fruto da Árvore da Vida.
III-A PLENITUDE DO REINO DE DEUS

No Reino de Deus todos estão plenamente saciados e ninguém voltará a morrer. Já não são precisas as estrelas, o sol ou a lua, pois a luz do Espírito de Deus ilumina todas as pessoas.

“E todos dizem ao Espírito da Vida: “Vem!” Digam também todos os que escutam a Palavra de Deus: “Vem!”.

O que tem sede que se aproxime e beba gratuitamente a Água da Vida” (Apc 22, 17).

No Céu todos cumprem o mandamento do amor, tal como Jesus o explicitou: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12).

No Reino de Deus todas as pessoas se sentem envolvidas numa atmosfera de comunhão amorosa. É por esta razão que a alegria brota em todos de modo espontâneo.

Na festa do Reino de Deus as pessoas gostam de ser assim como são, pois sentem que os outros as aceitam e gostam delas.

O Reino de Deus é a garantia de que Deus não nos criou para a morte mas sim para a Vida Eterna.

Na oração do Pai-Nosso as pessoas pedem a Deus que a sua vontade se faça na terra, tal como ela é feita no Céu: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”.

A vida de Jesus foi uma fidelidade contínua à vontade do Pai: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

E em uma outra passagem do evangelho de São João, Jesus acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo inspira-nos e convida-nos a realizar a vontade do Pai tal como Jesus fez.

Na oração do Pai-Nosso, Jesus ensinou os discípulos a pedir a Deus o pão de cada dia.
Como filhos de Deus, temos o direito de pedir ao Pai do Céu o alimento o alimento essencial para a vida que ele nos deu. Mas seremos tanto melhor atendidos quanto mais formos capazes de partilhar com os que têm menos que nós.

No entanto, o pão de cada dia não significa apenas o pão que vai para o estômago, mas também o pão que alimenta a nossa mente e o nosso coração. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus:
“Jesus respondeu a Satanás: “Está escrito, nem só de pão vive o Homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4).

Jesus ensina ainda os discípulos a pedir o perdão de Deus. Mas acrescenta que nos devemos dispor a perdoar também aos nossos irmãos:

“Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

E finalmente nós pedimos a Deus que “Não nos deixe cair em tentação, mas que nos livre do mal”.

A vida é como uma luta que temos de enfrentar todos os dias. Em cada dia temos de saber dizer não às nossas inclinações para o mal.

Quando dizemos a Deus que não nos deixe cair na tentação estamos a pedir que nos dê a força e a luz do Espírito Santo, a fim de não nos deixarmos iludir pelas tentações que pretendem fazer-nos crer que é bem para nós o que na verdade é mal.

Podemos dizer que o Pai-Nosso é uma síntese do Evangelho que Jesus pregou.

Se actuarmos em harmonia com os ensinamentos do Pai-Nosso, o nosso coração vai-se configurando de modo gradual e progressivo com o coração de Jesus.
Quando rezamos ao jeito de Jesus o Espírito Santo põe nos nossos lábios as palavras que pôs nos lábios de Jesus e leva-nos a dizer: “Abba,” Pai querido.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 11 de março de 2010

O MISTÉRIO DAS PERFEIÇÕES DE DEUS

A fé cristã ensina que Deus é uma comunhão de três pessoas infinitamente perfeitas. Além disso proclama que a maior parte das perfeições divinas são comuns às três pessoas.
Uma perfeição divina que se sobrepõe logo à partida é o facto de as pessoas divinas serem eternas. Isto significa que nunca houve um tempo no qual que Deus não existisse.

Por outras palavras, as pessoas divinas existiram, existem e existirão sempre.

É verdade que as pessoas humanas, por terem uma interioridade espiritual são imortais, isto é, existem para sempre, mas não existem desde sempre.

Outro aspecto importante da grandeza da divindade é o facto de Deus ser infinitamente perfeito.
Com efeito, as pessoas divinas não podem mudar para melhor, pois são infinitamente perfeitas e boas.

As pessoas humanas, pelo contrário, são seres em construção e, portanto, vão-se estruturando e aperfeiçoando de modo gradual e progressivo.

Deus conhece de modo infinitamente perfeito todas as coisas. Conhece não apenas o que as coisas são, como também o modo como se estruturam e a sua interacção com a Criação.

Por outras palavras, o conhecimento de Deus é total e perfeito, pois todas as coisas foram criadas a partir do diálogo e comunhão das pessoas divinas.

O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que Deus conhece as suas criaturas, desce o princípio da sua criação (Act 15, 18).

Por seu lado, a Carta aos Hebreus diz que todas as coisas estão presentes ao olhar de Deus (Heb 4, 13).

Do mesmo modo, o profeta Isaías diz que ninguém consegue ensinar nada a Deus, pois Ele sabe e conhece todas as coisas (Is 40, 13, 14).

Outra perfeição divina com grande significado para nós é a sua capacidade de estar presente a todos os lugares, apesar de não se esgotar em nenhum.

Na verdade, seja qual for o lugar em que nos encontremos podemos dizer com toda a verdade: “Deus está aqui”.

Isto significa que Deus é a realidade que está mais perto de todos nós, pois encontra-se face a face connosco no íntimo do nosso coração.

Deus é realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco. Quando subimos a uma montanha muito alta, não estamos mais perto de Deus.

Do mesmo modo, quando descemos a um vale muito profundo não estamos mais distantes da Divindade, pois Deus não está escondido lá no alto.

Nenhum ponto do Universo está mais perto de Deus do que qualquer outro ponto do mesmo Universo.

Isto significa que ninguém precisa de gritar alto para se fazer ouvir de Deus, pois ele está onde nós nos encontramos. Em qualquer ponto e momento podemos dizer: “Deus está aqui”.

Deus aceita-nos e relaciona-se connosco assim como nós somos.
Ouve o que lhe dizemos, mesmo que o digamos com uma voz muito baixinha.
Numa visão grandiosa queteve, o profeta Jeremias descreve a majestade e a glória de Deus. e termina dizendo que a presença de Deus enche os Céus e a Terra (Jer 23, 23-24).

Ao inaugurar o templo de Jerusalém, o rei Salomão disse que nem a Terra nem os Céus podem conter a grandeza do Senhor nosso Deus (1 Rs 8,27).

No Livro dos Actos dos Apóstolos, São Paulo diz que Deus não está longe de cada um de nós. Depois, completa o seu pensamento dizendo que é nele que existimos, vivemos e nos movemos (Act 17, 24-28).

A presença de Deus, portanto, é universal. Mas isto não quer dizer que Deus habita em todos os lugares da mesma maneira.

Assim, por exemplo, Deus habita no nosso coração de cada ser humano de modo muito especial.
O Espírito Santo diz a Carta aos Romanos, é o Amor de Deus derramado nos nossos corações. Esta presença do Espírito Santo une as pessoas de modo orgânico e dinâmico, como se fossem uma videira gigante cuja cepa é Jesus Cristo e nós os seus ramos (Jo 15, 1-7).

A morada de Deus não é um espaço exterior ao Cosmos, mas um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Por outras palavras, Deus não ocupa um lugar, mas está presente a todos os lugares sem se esgotar em nenhum.

Por estar sempre tão próximo de nós, Deus actua sempre nas nossas relações de amizade e comunhão com os outros.

Onde se juntarem duas ou três pessoas animadas pela fé e o amor fraterno o Espírito Santo está presente e activo no íntimo dessa comunhão, disse Jesus.

A Primeira Carta de São João confirma isto mesmo quando afirma que Deus é amor e que apenas as pessoas que amam os irmãos podem conhecer a Deus (1 Jo 4, 6-7).

Uma qualidade fundamental de Deus é a sua santidade. É mais santo quem ama mais.
Como Deus é amor infinito, ele é infinitamente santo.

A bondade divina é outro aspecto fundamental da perfeição de Deus. A nossa fé ensina-nos que Deus é infinitamente bom e que o mal não existe nele.

Eis o que diz a Primeira Carta de São João: “Quem ama permanece em Deus e Deus nele, pois Deus é amor” (1 Jo 4,16).

A verdade e a fidelidade de Deus são dois pilares importantes da perfeição infinita de Deus. A nossa fé garante-nos que Deus, por ser fiel e verdadeiro, nunca mente.

De facto, o que Deus conhece das coisas corresponde exactamente àquilo que as coisas são.
Por ser a fonte da Verdade, Deus nunca se engana nem nos pode enganar a nós. O que ele conhece de cada um de nós corresponde exactamente àquilo que nós somos.

Do mesmo modo, o que as três pessoas divinas conhecem de si corresponde exactamente àquilo que elas são. É por esta razão que nós podemos confiar totalmente nele.

Além disso, ele é um Deus fiel e verdadeiro, diz a bíblia e, por isso, ele não se engana nem nos quer enganar.

Por outras palavras, o que Deus nos diz pela sua Palavra corresponde exactamente à verdade. Eis um ensinamento importante de Jesus aos discípulos:

“O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome há-de ensinar-vos tudo” (Jo 14, 26).
E depois acrescenta: “Quando vier o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, ele vos guiará para a Verdade completa, pois ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer tudo o que ouviu e há-de anunciar-vos tudo o que há-de vir” (Jo 16, 13).

O Deus Criador está presente a todo o Universo, mas não se confunde com ele. Ele é o princípio de tudo o que existe, mas é um Deus que nunca teve um princípio.

Por ser a fonte da bondade, da verdade e do amor, podemos dizer que a Bondade, a Verdade e o Amor são a origem de todas as coisas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


domingo, 7 de março de 2010

A CRUZ COMO FONTE DE SALVAÇÃO


I-DIFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO A PARTIR DA CRUZ


O Mistério da Cruz encerra em si mesmo uma fonte de Sabedoria que nos capacita para saborearmos os mistérios de Deus, de Cristo e do Homem.

O evangelho de São Lucas diz que Jesus, no momento de morrer sobre a cruz, garantiu ao Bom Ladrão que nesse momento ia abrir as portas do Paraíso fechadas à Humanidade pelo pecado de Adão (Lc 23, 43).

Esta afirmação tem uma força simbólica enorme, pois é a garantia de que Jesus, no momento de morrer a cruz, restaurou o projecto humano distorcido pelo pecado de Adão.

O Livro do Génesis diz que após o pecado do Homem primordial, Deus fechou as portas do Paraíso, impedindo o acesso de Adão e seus filhos à Árvore da Vida.

“O Senhor Deus disse: “Eis que o homem quanto ao conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós.

Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre” (Gn 3, 22). Inserida neste contexto, a cruz ganha uma força simbólica de vitória sobre o pecado e a morte.

Ao morrer e ressuscitar sobre a cruz, Jesus proporciona-nos o acesso à Vida Eterna da qual Adão nos tinha privado.

Esta afirmação é reforçada por uma série afirmações que exprimem a transformação radical operada sobre a cruz pela morte e ressurreição de Jesus:

O véu do templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27, 51). Com este pormenor, os evangelistas querem afirmar que a morte e a ressurreição de Jesus Cristo proporcionaram o acesso directo das pessoas a Deus.

Com efeito, graças ao facto de os seres humanos estarem unidos de modo orgânico a Cristo, são assumidos e incorporados na comunhão familiar de Deus.

O véu do templo era um cortinado que separava o Santo dos Santos, isto é, o lugar santificado pela presença de Deus e o lugar onde permaneciam os crentes.

O Santo dos Santos era o lugar sagrado por excelência. Só o sumo-sacerdote podia aí entrar para comunicar com Deus e obter as bênçãos de Deus.

O véu do templo vedava a entrada das pessoas no Santo dos Santos. O rasgão do véu do templo é mais um sinal para da difusão do Espírito Santo que incorpora as pessoas humanas na Família de Deus.

Esta incorporação significa interacção directa entre Deus e o Homem através do Espírito Santo. É a dinâmica da Encarnação a universalizar-se, provocando um salto de qualidade a nível da Humanidade.

São Paulo entendeu muito a importância da difusão do Espírito Santo pela Humanidade. Eis o que ele diz na Carta aos Romanos:
“Todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus” (Rm 8, 14).
E noutra passagem desta mesma Carta afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O rasgão do véu do templo afirma que os cultos inúteis do Antigo Testamento acabaram e teve início o Novo Culto em Espírito e verdade, como Jesus disse à Samaritana:

“Mulher acredita em mim: chegou a hora em que nem no templo dos samaritanos (Garizim), nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai.

Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, pois salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores, hão-de adorar o Pai em Espírito e Verdade, pois são estes os adoradores que o Pai pretende” (Jo 4, 21-23).

Os relatos do véu do templo rasgado são uma maneira simbólica de confirmar o que diz o evangelho de São João:

“Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).

Na verdade, é por Jesus Cristo que nós fazemos parte da Família de Deus, como diz São Paulo. Somos filhos de Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

II-A CRUZ E A RESSURREIÇÃO DE CRISTO

A cruz simboliza o ponto de emergência da Nova Humanidade. Na verdade, Cristo não ressuscitou a partir do túmulo mas sim a partir da cruz.

São Paulo diz que este acontecimento representa a plenitude dos tempos, isto é, o fim da gestação do Homem do Homem Novo e o início do parto através do qual estão a nascer os filhos de Deus:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho que nasceu de uma mulher sujeita à Lei de Moisés, para resgatar todos os que se encontravam sob o domínio dessa Lei e serem adoptados como filhos de Deus.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama “Abba”, Pai querido.

Deste modo já não somos escravos, mas filhos. Se somos filhos somos também herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

O evangelho de São Mateus diz que no momento morre e ressuscita na cruz, os túmulos começam a abrir-se e os justos começam a ressuscitar com Cristo (Mt 27, 52).

Na verdade, se Cristo é o Novo Adão, isto é, a Nova Cabeça da Humanidade, não tinha sentido ressuscitar a cabeça sem o corpo.

De facto, diz a Primeira Carta aos Coríntios, nós somos corpo de Cristo e seus membros, cada qual com sua função (1 Cor 12, 27).

Na verdade, foi a partir da cruz que aconteceu a difusão salvadora do Espírito Santo. No momento em que o soldado introduziu a lança no coração de Jesus crucificado, saiu sangue e Água, diz o evangelho de São João (Jo 19, 34).

A água é a Água Viva como Jesus tinha ensinado aos Apóstolos, a qual faz emergir uma fonte de Vida Eterna no coração das pessoas (Jo 7, 37-38).

O evangelho de São João diz que a Água Viva, é o Espírito Santo, a força ressuscitadora de Jesus que também nos vai ressuscitando com ele.

As pessoas que beberem desta Água, disse Jesus à Samaritana, nunca mais terão sede (Jo 4, 14).

Do mesmo modo, o sangue que brotou do lado de Jesus, é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo que é o sangue de Cristo ressuscitado e que leva a vida divina a todos os membros do Corpo de Cristo.

Os que são vivificados por este sangue recebem a Vida Eterna e ressuscitam com Jesus Cristo (Jo 6, 54-55).

Dizendo que no momento da morte e ressurreição de Jesus o véu do templo se rasgou de alto a baixo, os evangelhos querem simbolizar a força renovadora do Espírito Santo que irradia da cruz, rompendo com as fronteiras estreitas da fé dos judeus e dos seus cultos ineficazes, como sugere São João.

Quando São João afirma que no momento da morte e ressurreição de Jesus o véu do templo se rasgou de alto a baixo também quer dizer que, nesse momento, Jesus pôs fim às fronteiras estreitas da religião judaica e inaugurou o culto da Nova Aliança no Espírito (Jo 14, 21-23).

O evangelho de São Mateus diz que no momento em que Jesus morre e ressuscita, as primeiras pessoas que reconheceram Jesus como Filho de Deus foi um pequeno grupo de pagãos: o centurião romano e o grupo de soldados que estavam com ele.

Com esta afirmação São Mateus pretende dizer que a difusão do Espírito Santo aconteceu no momento da morte e ressurreição de Jesus na cruz, pois os pagãos só acolhem Cristo como Messias e Filho de Deus graças à acção do Espírito Santo:

“O Centurião e os soldados que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer ficaram apavorados e disseram: “Este era verdadeiramente o Filho de Deus!” (Mt 27, 54).
III-A CRUZ E O PLANO SALVADOR DE DEUS


Cristo não nos fala de um Deus Pai cruel, um Deus incapaz de perdoar sem exigir tormentos e maus tratos.

As pessoas que interpretavam a morte de Jesus como um sacrifício expiatório exigido por Deus Pai estavam de facto a desfigurar o rosto de Deus.

Estas pessoas não se davam conta que Deus é uma Família cujos laços são o amor e a comunhão.
O que Deus Pai sente em relação a nós também o sente o seu Filho Unigénito, bem como o Espírito Santo.

Jesus curava os doentes e perdoava os pecados, afirmando que era esta a vontade de Deus Pai.

Justificava o seu procedimento, dizendo que estava a proceder de Acordo com a missão que o Pai lhe tinha confiado:
“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).
Noutra passagem ainda mais explícita, afirma: “Eu não desci do Céu para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.

E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6, 38-39).

Se é este o modo de Deus Pai nos amar e perdoar, como é que ele podia ter exigido ao seu Filho aquela morte cruel?

Deus não ama o pecado, e a morte de Jesus foi um pecado perpetrado pelos judeus daquele tempo.

São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7; 16). Isto significa que as pessoas divinas nada podem contra o amor, pois Deus não se pode negar a si mesmo.

Por outras palavras, Deus ama-nos de modo infinito e incondicional. Não esteve à espera que fôssemos bons para gostar de nós.

Pelo contrário, criou o Homem à sua imagem e semelhança e em seguida confiou-lhe o domínio de toda a criação (Gn 1, 26-30).

Falar da justiça de Deus, portanto, não significa falar de um julgamento de tribunal. Se Deus é amor, a sua justiça não pode ser outra senão a justiça do amor e o amor nunca se vinga, diz São Paulo:

“O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 7-8).

Se Deus é amor, então temos de reconhecer que as pessoas divinas são assim, quer se trate de Deus Pai, de Deus Filho ou do Deus Espírito Santo.

Esta é a luz que nos vem da Sabedoria da Cruz, a qual nos fala da plena fidelidade de Jesus à missão que Deus lhe confiou.

A morte violenta de Jesus resultou da maldade do judaísmo da sua época, o qual se opôs ao plano de amor e salvação universal de Deus.

Mas a sabedoria que brota da cruz revela-nos a grandeza do amor de Deus e a gratuidade do seu plano salvador em favor de todos os homens.

Ao mesmo tempo, o mistério da cruz revela-nos como a fidelidade de Jesus Cristo foi agradável a Deus, que o ressuscitou e sentou à sua direita.

São Paulo entendeu muito bem a relação que existe entre o amor de Deus Pai por nós e o modo fiel como Jesus exprimiu este mesmo amor. Eis as suas palavras na Segunda Carta aos Coríntios:

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que em Jesus Cristo nos reconciliou consigo, não levando mais em conta o pecado dos homens” (2 Cor 5, 17-19).

É por esta razão que São Paulo diz que Jesus Cristo é o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tim 2, 15).

Eis como a Carta aos Colossenses descreve o projecto salvador que Deus sonhou para nós e realizou em Jesus Cristo:

“Jesus Cristo é a imagem perfeita do Deus invisível, o primogénito de toda a Criação. Foi em harmonia com ele que as coisas do Céu e da Terra foram criadas, tanto as visíveis como as invisíveis. Tanto as coisas do Céu como as da Terra (…).

Tudo foi criado nele e por ele, pois ele é anterior a todas as coisas e todas subsistem por ele. Ele é a cabeça da Igreja e o princípio, o primogénito de entre os mortos, a fim de ter a primazia em todas as coisas.

Aprouve a Deus que habitasse nele toda a plenitude, a fim reconciliar consigo todas as coisas em Cristo e por Cristo” (Col 1, 15-20).

O mistério da cruz é o símbolo máximo do amor de Deus por nós e da fidelidade incondicional de Jesus Cristo.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

quinta-feira, 4 de março de 2010

A DIMENSÃO DIVINA DE JESUS

De maneiro solene e muito bonita, o evangelho de São João começa por proclamar Cristo como Filho eterno de Deus.

As afirmações mais importantes do evangelho de São João dizem respeito à união orgânica que existe entre o Pai e o Filho:

“No princípio era o Verbo. O Verbo, no princípio, estava com Deus e era Deus (Jo 1, 1-2). E ainda: “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10, 30).

Esta unidade do Pai e do Filho não significa fusão. Na verdade o Pai e o Filho são duas pessoas distintas e a comunhão que existe entre elas não as anula.

Por outras palavras, a união do pai e do Filho não significam uma fusão que anula a identidade única e original de cada pessoa.

A união do Pai e do Filho é uma reciprocidade amorosa, onde o Espírito Santo aparece como princípio animador:

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

O modo de agir de Jesus, dizem os evangelhos, está em perfeita conformidade com a vontade do Pai.

Por isso olhar para Jesus é descobrir o rosto de Deus Pai: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheces Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes: “Mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 9).

O Filho eterno de Deus é uma réplica perfeita do Pai no que se refere aos critérios e jeito de amar a Humanidade.

Eis a razão pela qual o Filho pode dizer com verdade: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).
Os evangelhos dizem que Jesus realizava a sua missão em total sintonia com o Pai:

“O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho o poder de julgar, a fim de os homens honrarem o Filho como honram o Pai.

Aquele que não honra o Filho também não honra o Pai, pois o Filho foi enviado pelo Pai” (5, 22- 23).

A fé no Filho e a fé no Pai são os pilares da única fé em Deus. Eis as palavras de Jesus:
“Aquele que acredita em mim, não só acredita em mim, mas também naquele que me enviou” (Jo 12, 44).

O Filho actua em perfeita sintonia com o Pai, pois o Pai entregou nas suas mãos a realização do seu plano de salvação:

“O pai ama o filho e colocou todas as coisas nas suas mãos” (Jo 3, 35).
Por isso o Filho está unido ao Pai de modo permanente:
“E aquele que me enviou está comigo e em mim. Com efeito, o Pai não me deixou sozinho, pois eu faço constantemente as coisas que lhe agradam” (Jo 8, 29).

Pelo mistério da Encarnação, os seres humanos ficaram membros da Família Divina: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho.

O evangelho de São João diz que o Filho de Deus, ao tornar-se irmão dos homens, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12-14)

Jesus declara-se nosso irmão, pois também nós somos filhos do seu Pai:
“Eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). São Paulo diz que o Filho de Deus, ao vir ao mundo, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

Através do Espírito Santo nós participamos da salvação com Cristo, pois estamos unidos a ele de modo orgânico.

Esta união é semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. São João diz que nós somos os ramos da videira e Cristo é a cepa da qual nos vem a seiva vivificante do Espírito Santo (Jo 15, 1-8).

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Graças ao dom da Encarnação, diz o evangelho de São João, foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).

Eis o modo como Jesus explicita a nossa união orgânica com o Pai e o Filho:
“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).
O evangelho de São João mantém um perfeito equilíbrio entre a afirmação de Cristo como filho eterno de Deus e a sua condição de homem em tudo igual a nós excepto no pecado:
Como filho eterno de Deus, Cristo e o Pai fazem um (Jo 10, 30).
Por isso, quem vê o seu modo de actuar está a ver o próprio jeito de ser do Pai (Jo 14, 9).
Segundo o evangelho de São João, o Apóstolo São Tomé, depois da aparição de Jesus ressuscitado exclama: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).

Querendo significar a condição divina de Jesus, o evangelho de São João põe na boca de Jesus a mesma expressão que Deus usou no Monte Sinai perante Moisés: “EU SOU”:

“Agora digo-vos estas coisas antes que aconteçam, a fim de que, quando elas acontecerem, acrediteis que EU SOU” (Jo 13, 19).

Mas o evangelho de São João reconhece igualmente que Jesus é um homem e por isso Jesus, pouco antes de partir o Pai diz:

“Eu vou para junto de meu Pai e vosso Pai, do meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Devido à sua condição divina o Filho é igual ao Pai e faz um com ele (Jo 10, 30).

Mas se tivermos presente a sua condição de homem, o Pai é maior do que o Filho:
“Ouvistes o que eu vos disse: “Eu vou mas voltarei para vós. Se me tivésseis amor, devíeis alegrar-vos por eu ir para o Pai, pois o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).

A compreensão da divindade de Cristo não foi o ponto de partida da fé apostólica, mas sim o ponto de chegada.

Compreender o mistério de Jesus Cristo como Filho Eterno de Deus supõe um salto de qualidade a nível da fé.

Este salto de qualidade implicava compreender de outro modo o próprio mistério de Deus, um mistério intocável para a fé judaica.

Com efeito, reconhecer que Cristo é o Filho eterno de Deus implica afirmar que Deus não é apenas o Yahvé do Antigo testamento, mas uma comunidade familiar:

“Não acreditais que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? Acreditai que eu estou no Pai e o Pai está em mim, pois eu faço as obras do Pai” (Jo 14, 10-11).

A fidelidade incondicional de Jesus é fonte de vida eterna para a Humanidade. Por isso ele procura fazer as coisas tal como o Pai lhe mandou:

“Eu não falei por mim mesmo, mas o pai, que me enviou, é que me comunicou o que devo dizer.
E eu sei que a missão que o Pai me entregou traz consigo a vida Eterna.

Eis a razão pela qual eu digo exactamente o que o Pai me disse para dizer” (12, 49-50). Como Filho eterno de Deus, Cristo é, tal como o Pai, a própria fonte da Vida:

“Assim como o Pai tem vida em si mesmo, também o Filho tem a vida em si mesmo” (Jo 5, 26).

Por isso Jesus aparece nos evangelhos a ressuscitar mortos, isto é, a manifestar-se como fonte de Vida Eterna:

“Disse-lhe Jesus: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido viverá.

Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre” (Jo 11, 25-26). Podemos dizer que em Cristo, Jesus de Nazaré e o Filho Eterno de Deus estão unidos mas não se fundem nem confundem.

Por outras palavras, o Filho Eterno de Deus e o Filho de Maria fazem uma união orgânica, mas isto não quer dizer que em Cristo o humano e o divino sejam indistintos.

Não podemos esquecer que o Filho unigénito de Deus é eterno, enquanto Jesus, o Filho de Maria, nasceu como no tempo e faz parte da Humanidade.

Isto quer dizer que entre a grandeza divina de Cristo e a sua grandeza humana existe uma distância suficiente que permite ao homem ser plenamente homem sem interferências do Filho Eterno de Deus.

Do mesmo modo, o Filho Eterno de Deus mantém uma distância suficiente para manter a sua plena grandeza divina sem quaisquer bloqueios provenientes da humanidade de Jesus de Nazaré.

Outro aspecto importante é a centralidade da acção do Espírito Santo na dinâmica da Encarnação.

O Espírito Santo é a ternura maternal de Deus. A sua acção no mistério da Encarnação não é substituir o pai humano de Jesus, mas optimizar o amor maternal de Maria.

Graças à acção especial do Espírito Santo no coração de Maria, esta ficou capacitada para amar o seu filho com o próprio jeito de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


segunda-feira, 1 de março de 2010

ALEGORIA SOBRE O SEGREDO DA ABUNDÂNCIA

Jesus ensinou que é possível acabar com a fome no mundo se as pessoas começarem a partilhar as riquezas e os seus talentos.

Se as pessoas e as nações forem capazes de iniciar um movimento universal de amor fraterno, fazendo da partilha o centro das suas relações com os outros, acabará a tragédia da fome que todos os dias mata dezenas de milhares de crianças no mundo.

As pessoas não partilham por várias razões: umas têm medo que não chegue para todos. Outras estão tão ocupadas consigo que não ouvem os gritos dos que estão a ser destruídos pela miséria.

A nível dos países vemos como os países ricos se apoderam dos bens da Terra, deixando os países pobres sem condições para construir uma vida digna para os seus habitantes.

Os países ricos, para conseguirem dominar e oprimir os países mais pobres, gastam fortunas enormes na compra e fabrico de armas potentes para matar grande parte dos que escaparam à morte pela fome.

O dinheiro que estes países gastam em armas era suficiente para impedir que todos os dias morram à fome muitos milhares de pessoas.

Este egoísmo monstruoso é a causa de muitos crimes contra a Humanidade, mas que não são julgados nos tribunais internacionais.

Jesus anunciou o Evangelho da fraternidade, ensinando as pessoas a partilhar riquezas e talentos, a fim de construírem a Família de Deus onde Deus é o Pai de todos.

Com o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus quis ensinar que, sempre que as pessoas começam a partilhar, acontece o milagre da abundância.

A experiência demonstra que nunca houve uma pessoa que tenha passado a vida a partilhar e tenha acabado na miséria ou tenha morrido de fome.

Se acreditássemos em Jesus e tomássemos a sério os seus ensinamentos a Humanidade era mais feliz.

A partilha faz bem às pessoas que recebem os dons dos outros, mas também faz muito bem às pessoas que partilham os seus bens, pois ajuda-as a ser mais humanas e felizes.
Certo dia, Jesus encontrou um jovem muito rico que tinha estudado a bíblia e, como ele dizia, cumpria os mandamentos principais de Deus.

Este jovem aproximou-se de Jesus e pediu-lhe que o ensinasse a ser mais perfeito e a amar mais a Deus.

Jesus gostou das palavras do jovem, deu-lhe os parabéns e disse-lhe: “Para seres mais perfeito e amar mais a Deus e aos irmãos já só te falta coisa: Vai vender os teus bens, partilha com os pobres e em seguida junta-te a mim, a fim de seres meu discípulo.

Não tenhas medo, pois nada te irá faltar”. O jovem, porém, retirou-se muito triste, pois possuía muitos bens e não tinha coragem para os partilhar. Retirou-se e acabou por ficar mais triste.

O amor começa por ser um convite a entrarmos no caminho da solidariedade e da partilha, a fim de ajudarmos os outros a ser felizes.

As pessoas que têm a coragem de agir assim acabaram de encontrar o caminho da sua própria felicidade.

Devemos ter presente que o amor nunca se impõe às pessoas pela força. Convida e inspira-nos caminhos de realização e felicidade. As pessoas podem aceitar ou não as suas propostas.

Lembremo-nos que Deus é amor e nunca se nos impõe. Convida-nos, bate à porta do nosso coração, mas não nos violenta.

Por outras palavras, Jesus convida-nos a amar a Deus e aos irmãos, mas não nos força, como aconteceu com aquele jovem rico ao qual Jesus convidou a partilhar.

A partilha é um dos gestos mais autênticos de amor. Amar é decidir fazer bem ao outro, aceitando-o assim como ele é e agirmos de modo a facilitar a sua felicidade.

As pessoas que partilham desenvolvem no seu coração uma força que as torna mais felizes. Na verdade, as pessoas possuem-se e são mais felizes na medida em que se dão.

Na verdade, é dando que as pessoas se possuem. Isto quer dizer que as pessoas se possuem tanto mais quanto mais se dão.

Como Jesus demonstrou com o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes partilhados, a partilha tem em si a força de realizar o milagre da abundância.

Na Eucaristia Jesus dá-nos o sinal de que a partilha é realmente o caminho da abundância: o pão da Eucaristia é para todos e ainda sobra.

Além disso, ensina-nos que Cristo ressuscitado está no coração dos que partilham, pois o pão da Eucaristia é para comer.

Podemos dizer que a Eucaristia é o grande sinal de que a partilha é o caminho que conduz à comunhão com Cristo e os irmãos.

Deus entregou os bens da Terra a todos os homens. Apoderar-se dos bens da Terra, impedindo que os outros possam viver é um pecado que ofende a Deus e destrói a Humanidade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matiaas